terça-feira, 8 de janeiro de 2013

Jerusalém pelas janelas de seus moradores


Moradores da Cidade Velha veem pelas janelas seus lugares sagrados

Correspondente da Rede Globo passeia pela Cidade Velha, em Jerusalém, em 27/10/12.
As janelas revelam pontos sagrados para cristãos, muçulmanos e judeus.

Carlos de Lannoy, Jerusalém, para o Jornal Hoje
 
 
Percorremos as ruas da velha cidade de Jerusalém. No bairro judeu, atravessamos a sala da casa até a janela que nos leva para o terraço. Sempre tem algum detalhe que chama a atenção: o gato curte a paisagem e o catavento indica que a brisa é constante.

Há janelas para todos os gostos, de todos os tamanhos e formas. Podemos ver o portão de Jafa e outros pedaços da história. Naquela que virou vitrine, é interessante observar a cerâmica fabricada pelos armênios. O livreiro aproveitou o marco para expor os seus livros em árabe. Antenas de televisão e tanques de água dividem a paisagem com cruzes, os campanários das igrejas, os moazins que chamam os muçulmanos para a reza. Por trás do farol, é possível avistar o teto da velha sinagoga. Do alto dá para ver o burburinho dos turistas e o bate-papo dos religiosos. Fotografar é como abrir uma janela na memória. "Tem uma surpresa em cada esquina", diz a turista canadense.

No muro das lamentações, sempre tem gente rezando. Mesmo janelas que acumulam poeira têm certo charme. Na barbearia, enquanto o cliente reforma o “telhado”, a gente acompanha o movimento na Via Dolorosa, a rua onde Jesus passou carregando a cruz.

No prédio onde mora o Emil, um cristão árabe, tem uma janela quebrada com vista para toda a cidade. A escada conduz ao telhado onde, entre roupas penduradas no varal, podemos contemplar a Igreja do Santo Sepulcro. Do outro lado mesquitas e sinagogas. "É um sentimento muito legal acordar de manhã e ter essa vista. Parece que estamos mais perto de deus, com todos esses templos do lado", diz.

Em frente à casa do Emil tem uma obra. É uma restauração. A casa antiga está hoje alguns metros abaixo do nível da rua. As portas e janelas da casa já não mostram mais a paisagem. Apenas contam a história da cidade destruída e reconstruída inúmeras vezes.

Jerusalém tem 30 mil moradores e recebe mais de três milhões de visitantes. Os russos Igor e Maria contam que já ficaram em hotéis modernos, fora dos muros, mas desta vez preferiram ficar em um edifício antigo, que tem janelas e uma vista deslumbrante. "Daqui do alto dá para sentir a incrível energia da cidade", diz ele.

As construções em Jerusalém são todas muito antigas. A casa onde o Afif mora com a mulher, quatro filhos e a mãe tem mais de 800 anos. Ele nos levar para um lugar muito especial e prova porque é considerado um dos moradores mais privilegiados da cidade velha. A casa dele é uma das poucas que fica sobre o muro que contorna o chamado monte do templo pelos judeus, lugar onde os muçulmanos ergueram seus templos há mais de 1.300 anos. Alguns metros separam o pátio do domo da rocha e da mesquita de Al Aqsa. Todas as manhãs, sentado na cama, faz uma leitura. Afif abre a cortina e pela janela recebe em seu quarto o brilho e a energia da cúpula dourada. Enquanto olha para o templo, bem ali à sua frente, ele resume: "esse lugar é o meu coração".

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