quinta-feira, 27 de setembro de 2012

Jornal do Vaticano diz que papiro que fala em casamento de Jesus é falso

Publicação da Igreja põe em xeque origem do documento. Especialista ressalta que papiro não seria prova de que Jesus era casado.

Da EFE

 
O jornal vaticano "L'Osservatore Romano" afirmou nesta quinta-feira (27) que o papiro recentemente apresentado no qual aparece a frase em copta "Jesus disse a eles, minha esposa ...", que alimentou a teoria que Cristo fosse casado, é "falso".

Pedaço de papiro traz a inscrição: 'Jesus disse a eles, minha esposa' (Foto: Karen L. King/Harvard/Divulgação)
Pedaço de papiro traz a inscrição: 'Jesus disse a eles, minha esposa' (Foto: Karen L. King/Harvard/Divulgação)


O vespertino da Santa Sé publicou em sua edição de hoje um artigo do professor italiano Alberto Camplani, especialista em língua copta e professor de História do Cristianismo na Universidade La Sapienza de Roma, no qual analisa o papiro recuperado pela professora americana Karen King, que levantou a polêmica.


Em seu artigo, Camplani afirma que Karen apresentou o papiro como do século 4 e que o texto pode ter sido escrito no século 2, "quando se debatia sobre se Jesus esteve casado".
 
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Camplani expressou sua "reserva" sobre esse ponto e disse que, perante um objeto desse tipo, "que, ao contrário de outros papiros, não foi descoberto em uma escavação, mas provém de um mercado de antiguidades, é preciso adotar precauções, que excluam que se trata de algo falsificado".

O especialista italiano acrescentou que, no que concerne ao texto, a própria Karen propõe vê-lo não como uma prova do estado conjugal de Jesus, mas como uma tentativa de fundar uma visão positiva do casamento cristão.

"Mas não é assim, tratam-se de expressões totalmente metafóricas, que simbolizam a consubstancialidade espiritual entre Jesus e seus discípulos, que são amplamente divulgadas na literatura bíblica e na cristã primitiva", comentou o especialista.

O jornal vaticano acrescentou que de todas as maneiras se trata de um documento "falso" e ressaltou que a historiadora americana preparou o anúncio "sem deixar nada ao acaso: imprensa americana avisada e entrevista coletiva prévia de King para preparar a exclusiva mundial, que, no entanto, foi posta em dúvida pelos especialistas".

Segundo o vespertino da Santa Sé, "razões consistentes" fazem pensar que o papiro seja uma "trôpega falsificação, como tantas que chegam do Oriente Médio", e que as frases nada têm a ver com Jesus.

Fonte: G1.

Zumbi

(Jorge Ben Jor - Divinamente interpretada por Ellen Oléria)

Angola congô benguela
Monjolo capinda nina
Quiloa rebolo

Aqui onde estão os homens
Há um grande leilão
Dizem que nele há
Uma princesa à venda
Que veio junto com seus súditos
Acorrentados em carros de boi

Eu quero ver
Eu quero ver
Eu quero ver

Angola congô benguela
Monjôlo capinda nina
Quiloa rebolo

Aqui onde estão os homens
Dum lado cana de açúcar
Do outro lado o cafezal
Ao centro senhores sentados
Vendo a colheita do algodão branco
Sendo colhidos por mãos negras

Eu quero ver
Eu quero ver
Eu quero ver

Quando Zumbi chegar
O que vai acontecer
Zumbi é senhor das guerras
È senhor das demandas
Quando Zumbi chega e Zumbi
É quem manda

Eu quero ver
Eu quero ver
Eu quero ver


quinta-feira, 20 de setembro de 2012

Metrô de Nova York ganhará anúncio que liga Islã a 'homem selvagem'

Por MATT FLEGENHEIMER, do New York Times (internacio@o | Agência O Globoqua, 19 de set de 2012

Anúncio já está sendo divulgado no transporte público de São Francisco, nos EUA. (Foto: Divulgação)

 
NOVA YORK - Enquanto violentos e às vezes mortais protestos consomem grande parte do mundo árabe em resposta ao vídeo anti-Islã produzidos nos EUA, os novaiorquinos irão em breve defrontar-se como uma nova polêmica envolvendo o Islã: uma propaganda no sistema de trânsito que terá a frase "Em qualquer guerra entre o homem civilizado e o selvagem, apoie o civilizado". A mensagem é concluída com as palavras "Apoie Israel, enfrente a jihad".

Depois de ter rejeitado o anuncio inicialmente e perdido uma ação na Justiça, a Autoridade Metropolitana de Transporte da cidade anunciou na terça-feira que a propaganda deve ser colocada em dez estações de metrô.

- Nossas mãos estão amarradas - disse Aaron Donovan, porta-voz do órgão, quando perguntado sobre a duração do anúncio.

Em julho, o juiz Paul A. Engelmayer, da Corte Distrital Federal em Manhattan, entendeu que a autoridade de transporte havia violado os direitos, assegurados na Primeira Ementa, do grupo que queria divulgar o anúncio, a Iniciativa de Defesa da Liberdade Americana. A autoridade de transporte havia citado a linguagem "degradante" da propaganda na tentativa de barrar sua instalação.

A autoridade, que também recorreu da decisão em julho, também pediu que o juiz postergasse a implementação de sua decisão até o encontro até encontro da cúpula do órgão, em 27 de setembro. Mas em outra decisão no mês passado, o juiz Engelmayer ordenou que a agência revisasse sua política de publicidade em duas semanas ou que procurasse prolongar o processo em uma corte de apelação. Nenhuma das duas coisas foi feita.

Em Washington, publicação "suspensa"

Agora, a autoridade de transporte de Nova York se vê em uma situação difícil. A Iniciativa de Defesa da Liberdade Americana também comprou espaços em Washington, mas autoridade de transporte local disse na terça-feira que "suspendeu" a colocação dos anúncios em razão de uma "preocupação com segurança pública por causa dos últimos eventos no mundo".

Uma opção similar não está disponível para a autoridade de transporte de Nova York por causa da decisão judicial. De acordo com Donovan, o órgão deve considerar revisar suas políticas de publicidade na reunião da cúpula na próxima semana.

Pamela Gettler, a diretora-executiva da Iniciativa de Defesa da Liberdade Americana disse por e-mail na terça-feira que o oficiais de trânsito de Washington estavam "sendo servis à ameaça de terrorismo jihadista". Ela afirma ainda que os eventos recentes no Oriente Médio não deram a ela "um segundo de descanso" sobre a colocação dos anúncios em Nova York;

"Eu nunca vou tremer ante intimidação violenta, e parar de dizer a verdade porque fazê-lo é perigoso. A liberdade deve ser vigorosamente defendida", disse. "Se alguém comete violência, é responsabilidade dela e de mais ninguém."

"Não é islamofobia, é islamorrealismo", diz outro anúncio

O grupo também fez campanha nas estações da linha de trem Metro-North, com cartazes que citam os "ataques islâmicos mortais" desde o 11 de Setembro e diz: "Não é islamofobia. É islamorrealismo"
A autoridade de transporte diz que não tentou bloquear esses anúncios porque eles não atingiram o limite da agência para linguagem "degradante", como o anúncio que se referia ao "selvagem".

Muneer Awad, diretor-executivo da seção de Nova York do Conselho de Relações Americano-Islâmicas, disse que as propagandas eram uma tentativa de "definir os muçulmanos" por meio da linguagem de ódio.

- Nós encorajamos os muçulmanos americanos a se definirem eles mesmos - disse.

Awad afirmou ainda que o grupo não pediu a remoção dos anúncios, embora tenha solicitado à autoridade de transporte o redirecionamento dos fundos que receber dos anúncios para a Comissão de Direitos Humanos da cidade.

- É perfeitamente legal ser intolerante e ser racista - disse ele. - O que queremos garantir é que podemos ter uma voz contrária.




sábado, 8 de setembro de 2012

Cidade de São Luís completa 400 anos

Capital maranhense é a única fundada pelos franceses no país. Ilha de mistérios, lendas e diversidade cultural mundialmente conhecida.



Casarões do período colonial em São Luís  (Foto: Reprodução/TV Mirante)

Casarões do período colonial em São Luís (Foto: Reprodução/TV Mirante)

Localizada no litoral maranhense, São Luís tem influência dos nativos, portugueses, franceses e africanos. Tem ainda, uma diversidade cultural nacionalmente conhecida. Ilha de lendas e mistérios, a capital maranhense completa neste sábado (8), 400 anos. Os títulos de Atenas Maranhense, Capital do Reggae, Ilha do Amor, Capital Brasileira da Cultura e Cidade Patrimônio Mundial da Humanidade, revelam a peculiaridade desta cidade única, chamada São Luís.

História
São Luís foi fundada, oficialmente, em 1612, quando os franceses, comandados por Daniel de La Touche, passaram a ocupar a região que era uma aldeia Tupinambá. No local, instalaram o Forte de São Luís. Esse momento faz com que São Luís seja considerada a única capital brasileira fundada pelos franceses.

Em homenagem ao rei menino Luís XIII, veio a denominação da cidade. Entretanto, segundo alguns historiadores, O nome da cidade é uma homenagem a outro rei, o rei Luís IX. Segundo o professor Fernando Nascimento Morais, o homenageado em questão foi canonizado e virou santo, daí o nome São Luís. Portugal, ao perceber a ocupação do território, se organizou para expulsar os franceses. Três anos após a ocupação, em novembro de 1615, os franceses foram expulsos, sob o comando de Jerônimo de Albuquerque, que se tornou o primeiro capitão-mor do Maranhão. São Luís também esteve sob o controle holandês no período de 1641 a 1644.

Capital maranhense é a única fundada por franceses. (Foto: Meireles Júnior)Capital maranhense é a única fundada por franceses. (Foto: Meireles Júnior)
 
Cidade dos Azulejos
São Luís foi habitada por franceses e holandeses mas foi edificada sob domínio português durante os séculos XVIII e XIV. Nas construções, foram usados azulejos vindos, em sua maioria, de Portugal. Seus casarões e fachadas transformaram São Luís na capital brasileira com maior número de casarões em estilo tradicional português e maior conjunto arquitetônico homogêneo da América Latina
A história urbana da capital maranhense possui características da colonização portuguesa, com reflexos urbanísticos planejados no século XVII. O traçado quadrilátero ortogonal, de influência espanhola, que se adequa à declividade da área. Este traçado auxiliou na expansão do núcleo central, que continua até os dias de hoje. Esta foi uma das características que conferiu, em 1997, à cidade o título de Patrimônio Mundial reconhecido pela UNESCO.
 
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Atenas Brasileira
Após a Balaiada (revolta popular ocorrida entre 1838 e 1841 na Província do Maranhão, pela disputa pelo controle do poder local), o Maranhão atravessou uma época de estabilidade e crescimento econômico.

É nesse momento que a vida cultural em São Luís ganha expressividade com a literatura. Gonçalves Dias, João Lisboa, Cândido Mendes, Odorico Mendes, Sousândrade, Humberto de Campos e outros, são nomes que transformaram o Maranhão no palco da poesia, da prosa e da produção jornalística no século XIX. Já na transição para o século XX, outros intelectuais maranhenses destacaram-se, como os de Adelino Fontoura, Teófilo Dias, Raimundo Corrêa, Aluízio de Azevedo, Artur Azevedo, Coelho Neto, Graça Aranha, Teixeira Mendes, Nina Rodrigues.

Capital Brasileira do Reggae
O reggae invadiu São Luís no final da década de 70, através dos rádios sintonizados em ondas curtas, pelos quais a população podia ouvir os sons que vinham do Caribe. Atualmente, o ritmo é uma das peculiaridades que mais atraem os turistas para São Luís. São nos salões de reggae que as pessoas podem conhecer e dançar o ritmo sensual.

Ilha de Mistérios
A capital maranhense também é uma ilha cercada de lendas e mistérios. Pode-se destacar duas lendas como as mais importantes do imaginário maranhense, a Lenda da Serpente de São Luís e o Milagre de Guaxemduba.

A Serpente de São Luís
Conta-se que uma serpente encantada, que cresce sem parar, um dia destruirá a ilha, quando a cauda encontrar a cabeça. O animal gigantesco habitaria as galerias subterrâneas que percorrem o Centro Histórico de São Luís e, embora seu corpo descomunal esteja em vários pontos da cidade (a barriga na Igreja do Carmo, a cauda na Igreja de São Pantaleão). Há quem garanta ser possível observar, através das grades que isolam as entradas do monumento, os terríveis olhos do animal.

Milagre de Guaxenduba
No principal combate travado entre portugueses e franceses, no dia 19 de novembro de 1614, no forte de Santa Maria de Guaxenduba, os portugueses estavam por ser derrotados por sua inferioridade de homens, armas e munições. Então, surgiu entre eles uma formosa mulher envolta em auréola resplandecente. Ao contato de suas mãos milagrosas, a areia era transformada em pólvora e os seixos em projéteis, fazendo com que os portugueses se revigorassem moralmente e derrotassem os franceses. Em memória deste feito, foi a virgem considerada a padroeira da cidade, sob a invocação de Nossa Senhora da Vitória.

São Luís tem o maior conjunto arquitetônico homogêneo da América Latina (Foto: Meireles Júnior)
São Luís tem o maior conjunto arquitetônico homogêneo da América Latina (Foto: Meireles Júnior)

Ícone da Independência, rio Ipiranga corre poluído e vira ponto de drogas

Nascente e pequeno trecho ainda são preservados no Jardim Botânico. Mas quando deixa o parque, esgoto e canalização destroem suas águas.

Giovana Sanchez
Do G1 SP

Trecho do rio em frente ao monumento (Foto: Flávio Moraes/G1)
Trecho do rio em frente ao monumento (Foto: Flávio Moraes/G1)

Em frente ao Monumento da Independência, no bairro do Ipiranga, em São Paulo, um cheiro podre toma o ar. Quem se aproxima do local onde D. Pedro I deu o grito da nossa “libertação” para ver de perto o famoso riacho citado no hino nacional, encontra um cenário triste: sujeira, mau cheiro e meninos fumando crack no que sobrou de suas “margens plácidas”. Cento e noventa anos depois da Independência, esse é o estado do riacho do Ipiranga em seu lugar mais nobre.

Segundo a Companhia Ambiental do Estado de São Paulo (Cetesb), a qualidade da água deste ponto específico do rio foi avaliada como “péssima” em medições feitas em janeiro, em maio e em julho deste ano. Em todos os seus 9,5 km de extensão pela cidade, só há um ponto em que ele é realmente limpo: em sua nascente, no Jardim Botânico.

Lá, uma trilha de 20 minutos construída no meio de uma reserva da mata atlântica leva a uma das três fontes que formam o rio. Limpo e com peixes, ele segue a céu aberto até o final do parque, quando encontra outros dois córregos na cidade e começa a receber o esgoto e a sujeira que o poluem.

“Depois da descanalização, a visitação [no Jardim Botânico] aumentou bastante”, conta Tânia Cerati, diretora do núcleo de pesquisa em educação do Instituto de Botânica. Quando ela chegou ao Jardim, há 20 anos, o riacho era tampado com um concreto, obra provavelmente do começo do século XX. O acesso à uma de suas nascentes era um projeto de Tânia, concretizado em 2006. Dois anos depois, ele foi todo revitalizado, e hoje o paisagismo do parque acompanha suas águas. “Acho que aqui é um bom exemplo de que é possível restaurar a natureza e com isso compensar vários erros que cometemos no passado”, diz ela.

Imagem de negativo de vidro mostra o Riacho do Ipiranga na região onde hoje é o Monumento à Independência. Não há informações sobre a data específica da imagem, mas sabe-se que foi feita antes das obras do parque, na década de 1920 (Foto: Acervo do Museu Pasulista da USP/José Rosael / Hélio Nobre)
Imagem de negativo de vidro mostra o riacho do Ipiranga na região onde hoje é o Monumento à Independência. No detalhe, uma mulher lava roupas. Não há informações sobre a data exata da imagem, mas sabe-se que foi feita antes das obras do Monumento, na década de 1920 (Foto: Acervo do Museu Paulista da USP/José Rosael / Hélio Nobre)

'Supervalorizado'
O Ipiranga tem, e sempre teve, um volume pequeno de água - e por isso é comumente chamado de riacho. Seu uso na história do Brasil nunca foi muito relevante, e sua fama se deve principalmente ao fato de estar ligado à Independência do país. Essa tese foi defendida na dissertação de mestrado do historiador e pesquisador do Arquivo Nacional Pablo Endrigo.

Ao G1, ele disse que o riacho era inexpressivo até a Independência e que a primeira menção a ele nos documentos oficiais data de 1773 - uma tentativa de canalização que nunca aconteceu. "O uso do rio era pelos tropeiros em viagens entre São Paulo e o porto de Santos, passando pela Serra do Mar. Usavam [o rio] para beber água, lavar as botas. [...] O Ipiranga esteve em uma região praticamente desabitada. Ele é mais valorizado do que deveria pelo seu tamanho e uso."

Inscrição de apologia à maconha é vista em uma das pontes que sobrepõem o Riacho em frente ao Monumento da Independência, em agosto de 2012  (Foto: Giovana Sanchez/G1)
Inscrição de apologia à maconha é vista em uma das pontes que sobrepõem o riacho em frente ao Monumento da Independência, em agosto de 2012 (Foto: Giovana Sanchez/G1)

Segundo o historiador, a fama do rio foi crescendo com o hino nacional e com a pintura do quadro de Pedro Américo - que, ao retratar a Independência, faz um desvio topográfico deixando o riacho à frente de D. Pedro I, quando na realidade ele estaria atrás. Depois, veio a construção do Museu e do Monumento à Independência."Aí você tem a associação final: a imagem, o hino e a situação histórica."

Projetos (e paulistanos) frustrados
Embora não seja de muito uso pela cidade, a não ser para receber dejetos, o riacho tem um papel histórico para o país. O fato de estar poluído há tantos anos irrita muitos moradores da capital, que já tentaram se mobilizar para mudar a situação.

O professor de engenharia da USP Sadalla Domingos é um dos autores de um projeto de limpeza e revitalização do riacho, que cria um parque linear desde a Rodovia dos Imigrantes até o Parque da Independência. Sadalla apresentou o projeto à Prefeitura da cidade em 2005, mas não recebeu nenhuma resposta. Segundo ele, falta vontade política.

"Como é possível que um símbolo histórico do Brasil tenha chegado a este grau de poluição? Além disso, qual é a expectativa em relação ao Riacho do Ipiranga e a todos os outros rios, e por que não ampliar a questão: qual é o ambiente de cidade que desejamos?", questiona o professor, indignado.

Outro entusiasta do projeto, o professor de direito ambiental da PUC Guilherme José Purvin criou um fórum de debates sobre uma possível revitalização do Riacho e a criação de um parque ao seu redor. "O rio está morto, completamente morto. Se você for na [Avenida Dr] Ricardo Jaffet, aquilo está num estado deplorável. [...] Acho meio vergonhoso. Uma professora leva os alunos para conhecer o lugar da independência e é uma região que tem desmanche e motel", diz ele.

Professor Sadalla Domingos:  (Foto: Giovana Sanchez/G1)
Professor Domingos: 'Qual é o ambiente de cidade que desejamos?' (Foto: Giovana Sanchez/G1)

A reportagem do G1 percorreu o trajeto do riacho, da nascente até o desague, no rio Tamanduateí, e encontrou sujeira e mal cheiro em todo o caminho - a partir da saída do Jardim Botânico. Em três dias diferentes, pôde ver jovens usavando drogas nas magens que ficam em frente ao Monumento da Independência.

Procurada pelo G1, a Prefeitura de São Paulo informou que desde 1986 foram realizadas 12 obras na região, que contribuíram para diminuir o problema das enchentes. As últimas obras quase dobraram a vazão do córrego e aumentaram de 9 para 13 metros sua largura. "Além disso, as galerias e o sistema de drenagem foram substituídos e ampliados, aumentando o fluxo de escoamento da água", dizia a nota. As Subprefeituras Ipiranga e Vila Mariana também informam que a limpeza no córrego do Ipiranga é realizada mensalmente de forma manual e, em alguns trechos, com ajuda de máquinas.

A Companhia de Saneamento Básico do Estado de São Paulo (Sabesp) informa que concluiu, em julho deste ano, uma obra na região - parte da terceira fase do Projeto Tietê. Segundo a assessoria de imprensa do órgão, os investimentos foram de R$ 51,6 milhões e permitiram que 380 litros de esgoto por segundo vindos dos bairros Ipiranga, Vila Mariana, Saúde, Bosque da Saúde, Cursino, Jabaquara e Americanópolis seguissem para tratamento na estação de Barueri.

Ainda de acordo com a Sabesp, as medições feitas desde o término da obra mostram uma melhoria na qualidade da água do riacho do Ipiranga. No entanto, o último resultado da coleta feita pela Cetesb, de julho, mantém a indicação de qualidade "péssima".

Futuro
"O riacho do Ipiranga pode e deve ser recuperado como uma prioridade entre todos os rios da cidade. [...] Isto é renaturalização de corpos d'água em áreas urbanas, uma tendência em todos os países: rios são despoluidos e destampados pelo menos em alguns trechos que permitam aos cidadãos perceber que tem um rio sob seus prédios, rodas e pés. É aqui que entra a política não só como interpretação do momento, mas como intuição, uma premonição até, para tomar uma decisão hoje como antecipação de uma demanda que será inevitável e muito mais cara ou até impossível [no futuro]", explica o professor Sadalla.

Ele termina a entrevista expressando um desejo, quase uma profecia, em nome de muitos brasileiros: "Antecipemos o início das programações do bicentenário da Independência e iniciemos no Ipiranga a limpeza de todas os nossas águas."

Fim de tarde de agosto em frente ao Monumento da Independência, no bairro do Ipiranga (Foto: Giovana Sanchez/G1)
Fim de tarde de agosto em frente ao Monumento da Independência, no bairro do Ipiranga Foto: Giovana Sanchez/G1)
 

sexta-feira, 7 de setembro de 2012

O Grito do Ipiranga

O destino cruzou o caminho de D. Pedro em situação de desconforto e nenhuma elegância. Ao se aproximar do riacho do Ipiranga, às 16h30 de 7 de setembro de 1822, o príncipe regente, futuro imperador do Brasil e rei de Portugal, estava com dor de barriga. A causa dos distúrbios intestinais é desconhecida. Acredita-se que tenha sido algum alimento malconservado ingerido no dia anterior em Santos, no litoral paulista, ou a água contaminada das bicas e chafarizes que abasteciam as tropas de mula na serra do Mar. (...)

A montaria usada por D. Pedro nem de longe lembrava o fogoso alazão que, meio século mais tarde, o pintor Pedro Américo colocaria no quadro "Independência ou Morte", também chamado de "O Grito do Ipiranga", a mais conhecida cena do acontecimento. (...) uma mula sem nenhum charme, porém forte e confiável. Era essa a forma correta e segura de subir a serra do Mar naquela época de caminhos íngremes, enlameados e esburacados.


Foi, portanto, como um simples tropeiro, coberto pela lama e a poeira do caminho, às voltas com as dificuldades naturais do corpo e de seu tempo, que D. Pedro proclamou a independência do Brasil. (...)

Quatro anos mais tarde, em depoimento por escrito, padre Belchior (com 24 anos naquele momento, mesma idade de D. Pedro, nascido em Diamantina-MG, era vigário da cidade mineira de Pitangui, maçom e sobrinho de José Bonifácio) registrou o que havia testemunhado a seguir:

D. Pedro, tremendo de raiva, arrancou de minhas mãos os papéis e, amarrotando-os, pisou-os e deixou-os na relva. Eu os apanhei e guardei. Depois, virou-se para mim e disse:
- E agora, padre Belchior?
Eu respondi prontamente:
- S Vossa Alteza não se faz rei do Brasil será prisioneiro das cortes e, talvez, deserdado por elas. Não há outro caminho senão a independência e a separação.
D. Pedro caminhou alguns passos, silenciosamente, acompanhado por mim, Cordeiro, Bregaro, Carlota e outros, em direção aos animais que se achavam à beira do caminho. De repente, estacou já no meio da estrada, dizendo-me:
- Padre Belchior, eles o querem, eles terão a sua conta. As cortes me perseguem, chamam-me com desprezo de rapazinho e de brasileiro. Pois verão agora quanto vale o rapazinho. De hoje em diante estão quebradas as nossas relações. Nada mais quero com o governo portugês e proclamo o Brasil, para sempre, separado de Portugal.
Respondemos imediatamente, com entusiasmo:
-Viva a Liberdade! Viva o Brasil separado! Viva D. Pedro!

Fonte: GOMES, Laurentino. O Grito. In: 1822: como um homem sábio, uma princesa triste e um escocês louco por dinheiro ajudaram D. Pedro a criar o Brasil, um país que tinha tudo para dar errado. Rio de Janeiro: Nova Fronteira, 2010, pp. 29-42.


Governo Eurico Gaspar Dutra (1946-1950)

Constituição de 1946: quinta Constituição brasileira (quarta Constituição do período republicano). Promulgada em 18 de setembro, caracterizou-se por ser liberal, atendendo mais aos interesses dos grandes empresários do que aos dos trabalhadores.

      · Princípios básicos: estabelecimento da Democracia, como regime político; manutenção da República, como forma de governo; o Presidencialismo, como sistema de governo; e a Federação, como forma de Estado.

      · Conferia poderes ao Legislativo, ao Executivo e ao Judiciário, para atuarem de forma independente e equilibrada;

      · Voto secreto e universal para os maiores de 18 anos;

      · Preservação da Legislação Trabalhista, tendo como novidade a garantia constitucional do direito de greve aos trabalhadores, mediante apreciação da Justiça do Trabalho;

      · Estabelecimento do mandato presidencial de cinco anos, proibindo-se a reeleição; deputados teriam mandato de quatro anos, permitindo-se a reeleição; senadores teriam mandato de oito anos, em número de três para cada estado.

    Teve seu governo marcado por relativa tranqüilidade política. Aliou-se ao bloco liderado pelos Estados Unidos da América, caracterizando-se por um restrito liberalismo econômico, ou seja, pelos princípios da não-intervenção do Estado na economia, com a abertura do país às importações.

      · As reservas nacionais de moedas estrangeiras, acumuladas durante os anos de guerra, foram usadas para financiar importações de produtos supérfluos ou de mercadorias já produzidas no país.

      · Diminuição do ritmo de crescimento da indústria nacional; aumento da dívida externa; comprometimento da balança de pagamentos.

      · Abandono do nacionalismo econômico da Era Vargas (1930-1945).

    Devido aos protestos dos líderes das entidades industriais brasileiras contra a liberação indiscriminada das importações, que lutavam por uma política de seleção das importações (compra de bens de produção como máquinas, equipamentos industriais e combustíveis), Dutra passou a dificultar as importações incorporando um tímido intervencionismo.

      · Controle do câmbio; regulamentação das importações; súbita valorização do café no mercado internacional, fez com que o Brasil registrasse um saldo favorável na balança comercial, em 1950, o primeiro positivo desde 1947 (crescimento médio de 6% ao ano).

    Plano Salte (Saúde, Alimentação, Transporte e Energia): ponto alto do intervencionismo, procurou criar uma política de investimentos em setores públicos considerados prioritários.

      · Lançado em maio de 1947, constituía uma tentativa de coordenar os gastos do governo. Devido a falta de competência administrativa e pouco dinheiro, o plano jamais foi adotado inteiramente. O governo realizou poucos objetivos, entre os quais a conclusão da rodovia Rio – São Paulo (Presidente Dutra) e a compra de ferrovias inglesas que haviam sido instaladas no Brasil no século XIX.

    Conservadorismo na política interna:

      · Em maio de 1947, Dutra cassou o registro do PCB (Partido Comunista Brasileiro), retornando-o à ilegalidade sob o pretexto de ser representante da URSS (União das Repúblicas Socialistas Soviéticas), com quem rompeu relações diplomáticas. Todos os parlamentares eleitos por esse partido tiveram seus mandatos cassados, inclusive o senador Luis Carlos Prestes.

      · Iniciou intervenções nos sindicatos e suspendeu o direito de greve.

    Nas eleições presidenciais para a sucessão de Dutra, Getúlio Vargas concorreu, pelo PTB (Partido Trabalhista Brasileiro), e venceu obtendo 48% dos votos válidos, sendo o segundo colocado Eduardo Gomes, da UDN (União Democrática Nacionalista), com 29%, e Cristiano Machado, do PSD (Partido Socialista Democrático), em terceiro com 21% dos votos.