Cerca de 90% da população do Brasil e do resto do Cone Sul viverá nas cidades em apenas oito anos, enquanto em toda a América Latina, a região mais urbanizada do mundo, a brecha entre pobres e ricos aumenta em muitos países, onde mais de um quarto da população mora em favelas e comunidades carentes, advertiu a ONU esta terça-feira.
"A América Latina é a região mais urbanizada do mundo, mas também uma das menos povoadas em relação ao seu território. Quase 80% de sua população vive em cidades, uma proporção superior à do grupo de países desenvolvidos", diz um relatório da ONU-Habitat, o programa da ONU para Assentamentos Humanos.
O Cone Sul, do qual o Brasil faz parte, é a região onde há uma proporção maior da população vivendo em cidades, seguido pelos países andinos e pelo México - com uma taxa de população urbana de 85% atualmente -, e depois por Caribe e América Central.
Paralelamente, entre 1990 e 2009 a desigualdade aumentou em Colômbia, Paraguai, Costa Rica, Equador, Bolívia, República Dominicana, Argentina e Guatemala, segundo o relatório.
Na região com 588,6 milhões de habitantes, considerada desde os anos 1970 a mais desigual do mundo, 20% da população mais rica têm em média uma renda per capita quase 20 vezes superior à renda dos 20% mais pobres.
"O principal desafio é como combater as desigualdades que existem nas cidades. É uma contradição bem grande do modelo econômico da América Latina em geral", disse Erik Vittrup, especialista da ONU-Habitat.
Na região, os países mais desiguais com base na distribuição de renda são, nesta ordem, Guatemala, Honduras, Colômbia, Brasil, República Dominicana e Bolívia, enquanto os menos desiguais são Venezuela, Uruguai, Peru e El Salvador.
"A desigualdade de renda é extremamente elevada. Há um déficit considerável de emprego e uma abundante informalidade, que se concentra nos jovens e nas mulheres", diz a ONU.
Apesar dos progressos feitos por América Latina e Caribe nos últimos 10 anos, 124 milhões de pessoas vivem na pobreza nas cidades, mais da metade no Brasil (37 milhões) e no México (25 milhões).
Mais de um quarto da população urbana, 111 milhões de pessoas, vive em favelas, um número maior do que há 20 anos, segundo a ONU.
O número de cidades na região aumentou seis vezes em 50 anos. A metade da população urbana, 222 milhões de pessoas, mora em cidades com menos de 500.000 habitantes e 14% (65 milhões de pessoas) vivem em megacidades, destacou o relatório, intitulado "O estado das cidades da América Latina".
O documento destaca com preocupação que as cidades latino-americanas continuam se expandindo fisicamente de uma forma que "não é sustentável", apesar da desaceleração demográfica.
"É ridículo continuar propondo modelos urbanos (...) com grandes programas habitacionais em enormes áreas (distantes) quando a vantagem das cidades é a concentração de cidadãos, infraestrutura e serviços. A densidade urbana está diminuindo quando deveria aumentar. (...) Não precisamos de mais terra", disse Vittrup, pedindo aos governos para "orientar os mercados imobiliários".
O especialista da ONU-Habitat mencionou o exemplo do México, onde foram construídos cinco milhões de casas em áreas distantes que davam a investimentos o melhor retorno, mas que acabaram ficando vazias porque ninguém queria se mudar para lá.
"É dramático que os governos façam residências para os pobres que ninguém vai utilizar. Estamos reproduzindo modelos que sabemos que não funcionam", afirmou.
O relatório destaca que o crescimento demográfico e a migração do campo para a cidade perderam força e que "a evolução demográfica das cidades tende a se limitar a um crescimento natural".
"As migrações agora são mais complexas e ocorrem principalmente entre cidades, às vezes através de fronteiras internacionais", de uma cidade para outra ou entre o centro e a periferia, sustenta.
O relatório destaca com preocupação que as cidades são cada vez menos compactas e seguem se expandindo fisicamente, apesar da desaceleração demográfica, de uma maneira que "não é sustentável".
As 40 principais cidades da América Latina produzem anualmente um PIB de mais de 842 bilhões de dólares e são verdadeiros motores da economia regional, segundo a ONU.
Fonte: Yahoo! Finanças.
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