quarta-feira, 21 de novembro de 2012

A inserção do negro no futebol brasileiro

O Vasco foi campeão carioca em 1923 com um time repleto de negros e mulatos (Foto: Reprodução internet)

Este dia 20 de novembro de 2012 marca os 317 anos da morte de Zumbi dos Palmares, e o feriado conhecido como Dia da Consciência Negra visa lembrar aos brasileiros a importância do povo africano na formação da cultura nacional. E, como não podia deixar de ser, no futebol, esporte mais importante do país e forte expressão da cultura brasileira, o negro também teve - e continua tendo - participação importante.

O futebol chegou ao Brasil com status de esporte de elite. Na Inglaterra, já era jogado por operários de fábricas, mas chegou a terras brasileiras por meio de estudantes de classe alta, que voltavam do Reino Unido com bolas e chuteiras na bagagem, como foram os casos de Charles Miller e Oscar Cox, os pioneiros da modalidade no Brasil.

Bangu e Vasco: pioneirismo e "exclusão"

No entanto, não demorou muito para que o football conquistasse os operários e trabalhadores também do Brasil. O exemplo mais simbólico é o do Bangu Atlético Clube, time fundado por ingleses, mas formado, em grande parte, pelos operários da Fábrica de Tecidos Bangu, no subúrbio do Rio de Janeiro. O clube foi o primeiro no estado a escalar um atleta negro, Francisco Carregal, em 1905. O feito fez com que, em 1907, a Liga Metropolitana de Football (equivalente à atual FERJ) publicasse uma nota proibindo o registro de "pessoas de cor" como atletas amadores de futebol. O clube, então, optou por abandonar a Liga e não disputar o Campeonato Carioca.

O Bangu ficou conhecido como um clube símbolo da luta contra o racismo no futebol brasileiro, mas foi o Vasco da Gama que entrou para a História ao conquistar um título com um plantel formado quase que inteiramente por jogadores negros, muitos deles "contratados" junto ao Bangu (à época, o futebol ainda era amador, e não havia contratações formais de atletas). O clube, que em 1905 já havia elegido um presidente mulato, Cândido José de Araújo, foi campeão carioca em 1923, seu ano de estreia na Primeira Divisão, e despertou a ira dos rivais. No ano seguinte, Fluminense, Flamengo, Botafogo e outros times abandonaram a Liga e fundaram a Associação Metropolitana de Esportes Atléticos (AMEA), entidade à qual o Vasco só poderia se filiar se dispensasse seus 12 atletas negros.

Cabelo esticado e pó-de-arroz para disfarçar


Apesar do grande racismo no futebol brasileiro no início do século XX, o primeiro grande ídolo da modalidade no país foi justamente um mulato. Filho de um alemão com uma brasileira negra, Arthur Friedenreich foi o maior jogador brasileiro na época do futebol amador. Autor do gol que daria o primeiro título à Seleção Brasileira, o Sul-Americano de 1919, Friedenreich era mulato e tinha olhos verdes. antes de entrar em campo, o atacante esticava o cabelo rente ao couro cabeludo para parecer "mais branco".

Tática semelhante foi usada por Carlos Alberto, jogador que trocou o America pelo Fluminense em 1914. Como a camisa branca do clube de elite da zona sul contrastava com sua pele mulata, Carlos Alberto entrava em campo maquiado com pó-de-arroz, que, ao longo da partida, ia escorrendo junto ao suor. A torcida então passou a gritar "pó-de-arroz", que posteriormente se tornaria um apelido dos adeptos tricolores.

Profissionalismo e a inserção do negro no futebol


O Fluminense, aliás, também teve sua participação na luta contra o racismo no futebol, apesar de involuntariamente. À medida que a presença de negros e mulatos foi se tornando cada vez mais aceita dentro dos elencos - ou necessária, pois o nível do futebol praticado em campo ia melhorando e os times se viam obrigados a contar com jogadores de todos os tons de pele para poder competir em pé de igualdade com seus rivais - o clube das Laranjeiras viu aumentar o preconceito dos sócios com os jogadores negros que frequentavam sua sede. Como uma medida para separar sócios de jogadores, o Fluminense entrou na briga pela profissionalização do futebol no início da década de 1930, fazendo com que seus jogadores, agora empregados assalariados, entrassem na sede das Laranjeiras pela porta de funcionários e não mais tivessem contato com os sócios elitistas.

A profissionalização do futebol no Brasil foi um grande passo para a redução do racismo na modalidade. Como os atletas passaram a ser contratados e pagos de acordo com seu nível técnico, a cor de pele dos jogadores passou a ser uma questão menos importante. A nova situação do futebol brasileiro propiciou o reconhecimento de talentos como Leônidas da Silva, o Diamante Negro, que encantou o mundo na Copa de 1938, na França. Antes disso, a presença de negros na Seleção Brasileira ainda era vista com maus olhos.

Em 1921, por exemplo, o então presidente Epitácio Pessoa sugeriu que não fossem convocados jogadores negros para a disputa do Sul-Americano daquele ano para que fosse projetada no exterior "uma imagem composta pelo melhor da sociedade brasileira". No entanto, a popularização do futebol ao longo do século passado o expandiu a todas as camadas sociais do país, e negros como Domingos da Guia, Leônidas, Barbosa, Nilton Santos e outros foram conquistando seu espaço nos clubes e na Seleção e agregando valor ao futebol brasileiro.

Atualmente, ainda não é possível dizer que o futebol brasileiro se viu livre do racismo. No entanto, é evidente o reconhecimento da participação do negro no desenvolvimento do futebol do país, a ponto de o melhor jogador de todos os tempos, eleito atleta do século XX, Pelé, ser negro e não precisar esticar o cabelo nem passar pó-de-arroz para ter seu talento reconhecido.

sábado, 10 de novembro de 2012

Anúncios "matam" Hitler, Saddam e Stalin

Anúncios matam ditadores
FOTO: Reprodução
"Bem, não é sempre assim. Geralmente, a vítima é um inocente". É o que diz o anúncio criado por uma organização de vitimas de acidentes rodoviários. Com o intuito de conscientizar as pessoas para que elas tenham consciência na hora de dirigir, as peças mostram as imagens de grandes vilões da História esborrachados no para-brisa de um carro.
O ditador russo Joseph Stalin, o carrasco alemão nazista Adolf Hitler e o vilão iraquiano Saddam Hussein são as "vítimas" da série de anúncios.
Esta não é a primeira vez que ditadores são utilizados para inspirar os criativos.
"Gentil e efetivo alívio para constipação" - Anúncio para laxante - Mais informações.
"Comunista - Conquistador: bigodes fazem a diferença" - Anúncio para angariar fundos para pesquisas contra o câncer. Mais informações.
"50 anos juntos cortando a voz da opressão" - Anúncio em comemoração ao aniversário da Anistia Internacional. Mais informações.
"AIDS é um assassino em massa" - Criada para conscientizar o público alemão na prática do sexo seguro. Mais informações.
Com informações do Ads Of The World.
Redação Adnews

domingo, 14 de outubro de 2012

Fantástico conversa com mulher-símbolo da guerra do Vietnã

 
Kim Phuc contou ao repórter Roberto Kovalick como superou a tragédia e aprendeu a perdoar.
 
Kim Phuc, a menina da foto que revelou o horror da guerra do Vietnã, esteve no Brasil esta semana. Ela contou ao repórter Roberto Kovalick como superou a tragédia e aprendeu a perdoar.

 
Quem a conhece quer posar ao lado dela. Afinal, Kim Phuc é a menina da foto que ajudou a acabar com uma guerra.

1972. Vietnã. Na vila onde Kim morava, um avião jogou bombas de napalm, substância incendiária feita à base de gasolina - hoje, proibida pelas Nações Unidas.

Do meio do fogo e da fumaça, surgiram crianças queimadas.

Um fotógrafo registrou aquele momento para a história. Kim, com 9 anos de idade, aparecia gritando e nua, porque as roupas foram queimadas junto com parte da pele.
Em palestras no Brasil, Kim conta:

"Infelizmente, os soldados que tentaram me ajudar não sabiam que o napalm queima embaixo da pele, e jogaram água em mim. Isso fez o napalm queimar ainda mais profundamente. E eu desmaiei", diz Kim Phuc.

A foto rodou o mundo. Um impacto tão grande que o presidente americano na época, Richard Nixon, disse: "Isso é uma montagem".

E influiu na pressão da sociedade americana para encerrar a guerra, que ainda levou três anos.

Enquanto tudo isso acontecia, Kim estava em um hospital, para onde foi levada pelo próprio fotógrafo Nick Ut. Já adulta, Kim o reencontrou.
“Ele fez o trabalho dele. Não apenas tirou a foto, mas deu um passo além do dever profissional. Ele me ajudou, salvou a minha vida. Sou muito agradecida por isso”, conta Kim.

Quarenta anos depois, as marcas da guerra ainda são visíveis no corpo de Kim. As cicatrizes causadas por napalm são impossíveis de apagar. Ela geralmente usa roupas de mangas compridas, para não chamar demais a atenção, não chocar as pessoas. Mas não se recusa a mostrar as cicatrizes quando alguém pede. São uma espécie de registro da história.

“Estas são minhas cicatrizes. Estão também nas minhas costas. Foi aqui que eu vi meu corpo pegando fogo. E tentei apagar com a outra mão”, mostra Kim.

“Elas ainda doem?”, pergunta o repórter.

“Sim, muita dor. Nas costas e também aqui. Quando o tempo muda, quando faço alguns movimentos e quando adoeço, a dor aparece”, conta Kim.

Há 18 anos, ela reencontrou o capitão americano que comandou o ataque.

“No começo foi muito difícil perdoar, porque sou um ser humano. Eu comecei a rezar pelos meus inimigos e meu coração se tornou mais leve. É por isso que estou sempre sorrindo e sou sempre positiva”, diz Kim.

Kim se tornou embaixadora da boa vontade da Unesco e criou uma fundação para ajudar outras crianças vítimas de guerras. E corre o mundo inspirando jovens com uma mensagem de paz, fé e perdão.
 
“Assistir à palestra dela é uma motivação a mais”, conta uma jovem.

“Ela perdeu praticamente tudo que ela tinha, toda a vida dela, e hoje ela está aqui, mostrando que ela conseguiu reverter a dor em amor”, acrescenta um jovem.

“A mensagem que eu quero dar para as pessoas do Brasil é que todo mundo pode aprender a viver com amor, com esperança e perdão. O desafio para todo mundo é: se aquela menininha pôde fazer isso, todo mundo pode fazer também”, declara Kim.

Fonte: Fantástico.

terça-feira, 2 de outubro de 2012

Armas de Bonnie e Clyde são leiloadas por mais de R$ 1 milhão

História do casal de assaltantes mortos pela polícia em 1934 foi transformada em filme vencedor de 2 Oscars em 1967.

BBC
 

As armas usadas pelo notório casal de assaltantes americanos Bonnie Parker e Clyde Barrow foram vendidas por mais de meio milhão de dólares (mais de R$ 1 milhão) em um leilão neste domingo nos Estados Unidos.

A história de Bonnie e Clyde, que morreram cravejados de balas pela polícia em 1934, foi transformada em 1967 em um filme vencedor de dois Oscars, com Warren Beatty no papel de Clyde e Faye Dunaway no papel de Bonnie.

Os crimes cometidos pela dupla em pleno auge da Grande Depressão os colocou como figuras de destaque no imaginário americano.

As armas do casal foram vendidas como parte de um leilão intitulado American Gangsters, Outlaws and Lawmen (Gangsters Americanos, Foras da Lei e Homens da Lei), realizado pela companhia de leilões RR Auction no Estado de New Hampshire.

O revólver Colt Detective Special .38 de Bonnie foi vendido por US$ 264 mil, enquanto a pistola 1911 Army Colt .45 de Clyde recebeu um lance máximo de US$ 240 mil.

O leilão também teve pertences de Al Capone e do detetive Eliot Ness, entre outros nomes conhecidos.

'Tragédia de Shakespeare'

Bonnie Parker e Clyde Barrow ganharam notoriedade por uma série de assaltos a banco e assassinatos até serem mortos pela polícia em uma emboscada em 23 de maio de 1934.

Além das armas que o casal portava, também foram leiloados objetos retirados do carro onde eles foram mortos, como o estojo de maquiagem de Bonnie e um maço de fotos.

O professor aposentado de história E.R. Milner afirma que é clara a razão pela qual o casal ganhou tanta notoriedade.

'Os americanos e, acredito, a maioria das pessoas, adoram amantes... e aqui estavam estes jovens no meio da pior depressão econômica da história do mundo lutando pelo que acreditavam que era certo e amando um ao outro', disse ele à BBC.

'Era quase como uma tragédia de Shakespeare transportada para uma estrada poeirenta da Louisiana', afirmou.

Fonte: G1.

segunda-feira, 1 de outubro de 2012

R.I.P. Eric Hobsbawn


Morre aos 95 anos o historiador Eric Hobsbawm

Intelectual é considerado um dos maiores historiadores do século XX.
Ele escreveu 'A era das revoluções', 'A era do capital' e outras obras.

Do G1, em São Paulo

Eric Hobsbawm durante uma feira do livro em Leipzig, em 1999 (Foto: Eckehard Schulz/AP)Eric Hobsbawm durante uma feira do livro em Leipzig, em 1999 (Foto: Eckehard Schulz/AP)
O historiador britânico Eric Hobsbawm morreu nesta segunda-feira (1º) aos 95 anos em um hospital de Londres, informou sua família. Ele sofria de pneumonia.

O intelectual marxista é considerado um dos maiores historiadores do século XX e escreveu "A era das revoluções", "A era do capital", "A era dos impérios", "Era dos extremos", "História social do jazz", entre outras obras.

Hobsbawm nasceu de uma família judia em Alexandria, Egito, em 1917. Ele cresceu em Viena, Áustria, e Berlim, Alemanha, e se mudou para Londres, Inglaterra, em 1933, obtendo a cidadania inglesa. O historiador se filiou ao Partido Comunista da Inglaterra em 1936.

Ele estudou no King's College de Londres e começou a dar aula na Universidade de Birkbeck em 1947, mais tarde tornando-se presidente da instituição.

Em 1962, ele publicou o primeiro de três volumes sobre o que chamou de "o longo século XIX", cobrindo o período entre 1789, ano da Revolução Francesa, e 1914, começo da I Guerra Mundial. O volume seguinte, "Era dos extremos", retratou a história até 1991, o fim da União Soviética.

De acordo com o jornal britânico "The Guardian", ele tem um livro em revisão a ser publicado em 2013.

Ele veio ao Brasil em 2003 participar da primeira edição da Festa Literária Internacional de Paraty (Flip), evento do qual foi estrela.

O historiador britânico Eric Hobsbawm posa durante a primeira edição da Flip, em 2003; ele foi considerado a estrela daquela edição  (Foto: Divulgação)
O historiador britânico Eric Hobsbawm posa durante a primeira edição da Flip, em 2003; ele foi considerado a estrela daquela edição (Foto: Divulgação)
 

quinta-feira, 27 de setembro de 2012

Jornal do Vaticano diz que papiro que fala em casamento de Jesus é falso

Publicação da Igreja põe em xeque origem do documento. Especialista ressalta que papiro não seria prova de que Jesus era casado.

Da EFE

 
O jornal vaticano "L'Osservatore Romano" afirmou nesta quinta-feira (27) que o papiro recentemente apresentado no qual aparece a frase em copta "Jesus disse a eles, minha esposa ...", que alimentou a teoria que Cristo fosse casado, é "falso".

Pedaço de papiro traz a inscrição: 'Jesus disse a eles, minha esposa' (Foto: Karen L. King/Harvard/Divulgação)
Pedaço de papiro traz a inscrição: 'Jesus disse a eles, minha esposa' (Foto: Karen L. King/Harvard/Divulgação)


O vespertino da Santa Sé publicou em sua edição de hoje um artigo do professor italiano Alberto Camplani, especialista em língua copta e professor de História do Cristianismo na Universidade La Sapienza de Roma, no qual analisa o papiro recuperado pela professora americana Karen King, que levantou a polêmica.


Em seu artigo, Camplani afirma que Karen apresentou o papiro como do século 4 e que o texto pode ter sido escrito no século 2, "quando se debatia sobre se Jesus esteve casado".
 
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Camplani expressou sua "reserva" sobre esse ponto e disse que, perante um objeto desse tipo, "que, ao contrário de outros papiros, não foi descoberto em uma escavação, mas provém de um mercado de antiguidades, é preciso adotar precauções, que excluam que se trata de algo falsificado".

O especialista italiano acrescentou que, no que concerne ao texto, a própria Karen propõe vê-lo não como uma prova do estado conjugal de Jesus, mas como uma tentativa de fundar uma visão positiva do casamento cristão.

"Mas não é assim, tratam-se de expressões totalmente metafóricas, que simbolizam a consubstancialidade espiritual entre Jesus e seus discípulos, que são amplamente divulgadas na literatura bíblica e na cristã primitiva", comentou o especialista.

O jornal vaticano acrescentou que de todas as maneiras se trata de um documento "falso" e ressaltou que a historiadora americana preparou o anúncio "sem deixar nada ao acaso: imprensa americana avisada e entrevista coletiva prévia de King para preparar a exclusiva mundial, que, no entanto, foi posta em dúvida pelos especialistas".

Segundo o vespertino da Santa Sé, "razões consistentes" fazem pensar que o papiro seja uma "trôpega falsificação, como tantas que chegam do Oriente Médio", e que as frases nada têm a ver com Jesus.

Fonte: G1.

Zumbi

(Jorge Ben Jor - Divinamente interpretada por Ellen Oléria)

Angola congô benguela
Monjolo capinda nina
Quiloa rebolo

Aqui onde estão os homens
Há um grande leilão
Dizem que nele há
Uma princesa à venda
Que veio junto com seus súditos
Acorrentados em carros de boi

Eu quero ver
Eu quero ver
Eu quero ver

Angola congô benguela
Monjôlo capinda nina
Quiloa rebolo

Aqui onde estão os homens
Dum lado cana de açúcar
Do outro lado o cafezal
Ao centro senhores sentados
Vendo a colheita do algodão branco
Sendo colhidos por mãos negras

Eu quero ver
Eu quero ver
Eu quero ver

Quando Zumbi chegar
O que vai acontecer
Zumbi é senhor das guerras
È senhor das demandas
Quando Zumbi chega e Zumbi
É quem manda

Eu quero ver
Eu quero ver
Eu quero ver


quinta-feira, 20 de setembro de 2012

Metrô de Nova York ganhará anúncio que liga Islã a 'homem selvagem'

Por MATT FLEGENHEIMER, do New York Times (internacio@o | Agência O Globoqua, 19 de set de 2012

Anúncio já está sendo divulgado no transporte público de São Francisco, nos EUA. (Foto: Divulgação)

 
NOVA YORK - Enquanto violentos e às vezes mortais protestos consomem grande parte do mundo árabe em resposta ao vídeo anti-Islã produzidos nos EUA, os novaiorquinos irão em breve defrontar-se como uma nova polêmica envolvendo o Islã: uma propaganda no sistema de trânsito que terá a frase "Em qualquer guerra entre o homem civilizado e o selvagem, apoie o civilizado". A mensagem é concluída com as palavras "Apoie Israel, enfrente a jihad".

Depois de ter rejeitado o anuncio inicialmente e perdido uma ação na Justiça, a Autoridade Metropolitana de Transporte da cidade anunciou na terça-feira que a propaganda deve ser colocada em dez estações de metrô.

- Nossas mãos estão amarradas - disse Aaron Donovan, porta-voz do órgão, quando perguntado sobre a duração do anúncio.

Em julho, o juiz Paul A. Engelmayer, da Corte Distrital Federal em Manhattan, entendeu que a autoridade de transporte havia violado os direitos, assegurados na Primeira Ementa, do grupo que queria divulgar o anúncio, a Iniciativa de Defesa da Liberdade Americana. A autoridade de transporte havia citado a linguagem "degradante" da propaganda na tentativa de barrar sua instalação.

A autoridade, que também recorreu da decisão em julho, também pediu que o juiz postergasse a implementação de sua decisão até o encontro até encontro da cúpula do órgão, em 27 de setembro. Mas em outra decisão no mês passado, o juiz Engelmayer ordenou que a agência revisasse sua política de publicidade em duas semanas ou que procurasse prolongar o processo em uma corte de apelação. Nenhuma das duas coisas foi feita.

Em Washington, publicação "suspensa"

Agora, a autoridade de transporte de Nova York se vê em uma situação difícil. A Iniciativa de Defesa da Liberdade Americana também comprou espaços em Washington, mas autoridade de transporte local disse na terça-feira que "suspendeu" a colocação dos anúncios em razão de uma "preocupação com segurança pública por causa dos últimos eventos no mundo".

Uma opção similar não está disponível para a autoridade de transporte de Nova York por causa da decisão judicial. De acordo com Donovan, o órgão deve considerar revisar suas políticas de publicidade na reunião da cúpula na próxima semana.

Pamela Gettler, a diretora-executiva da Iniciativa de Defesa da Liberdade Americana disse por e-mail na terça-feira que o oficiais de trânsito de Washington estavam "sendo servis à ameaça de terrorismo jihadista". Ela afirma ainda que os eventos recentes no Oriente Médio não deram a ela "um segundo de descanso" sobre a colocação dos anúncios em Nova York;

"Eu nunca vou tremer ante intimidação violenta, e parar de dizer a verdade porque fazê-lo é perigoso. A liberdade deve ser vigorosamente defendida", disse. "Se alguém comete violência, é responsabilidade dela e de mais ninguém."

"Não é islamofobia, é islamorrealismo", diz outro anúncio

O grupo também fez campanha nas estações da linha de trem Metro-North, com cartazes que citam os "ataques islâmicos mortais" desde o 11 de Setembro e diz: "Não é islamofobia. É islamorrealismo"
A autoridade de transporte diz que não tentou bloquear esses anúncios porque eles não atingiram o limite da agência para linguagem "degradante", como o anúncio que se referia ao "selvagem".

Muneer Awad, diretor-executivo da seção de Nova York do Conselho de Relações Americano-Islâmicas, disse que as propagandas eram uma tentativa de "definir os muçulmanos" por meio da linguagem de ódio.

- Nós encorajamos os muçulmanos americanos a se definirem eles mesmos - disse.

Awad afirmou ainda que o grupo não pediu a remoção dos anúncios, embora tenha solicitado à autoridade de transporte o redirecionamento dos fundos que receber dos anúncios para a Comissão de Direitos Humanos da cidade.

- É perfeitamente legal ser intolerante e ser racista - disse ele. - O que queremos garantir é que podemos ter uma voz contrária.




sábado, 8 de setembro de 2012

Cidade de São Luís completa 400 anos

Capital maranhense é a única fundada pelos franceses no país. Ilha de mistérios, lendas e diversidade cultural mundialmente conhecida.



Casarões do período colonial em São Luís  (Foto: Reprodução/TV Mirante)

Casarões do período colonial em São Luís (Foto: Reprodução/TV Mirante)

Localizada no litoral maranhense, São Luís tem influência dos nativos, portugueses, franceses e africanos. Tem ainda, uma diversidade cultural nacionalmente conhecida. Ilha de lendas e mistérios, a capital maranhense completa neste sábado (8), 400 anos. Os títulos de Atenas Maranhense, Capital do Reggae, Ilha do Amor, Capital Brasileira da Cultura e Cidade Patrimônio Mundial da Humanidade, revelam a peculiaridade desta cidade única, chamada São Luís.

História
São Luís foi fundada, oficialmente, em 1612, quando os franceses, comandados por Daniel de La Touche, passaram a ocupar a região que era uma aldeia Tupinambá. No local, instalaram o Forte de São Luís. Esse momento faz com que São Luís seja considerada a única capital brasileira fundada pelos franceses.

Em homenagem ao rei menino Luís XIII, veio a denominação da cidade. Entretanto, segundo alguns historiadores, O nome da cidade é uma homenagem a outro rei, o rei Luís IX. Segundo o professor Fernando Nascimento Morais, o homenageado em questão foi canonizado e virou santo, daí o nome São Luís. Portugal, ao perceber a ocupação do território, se organizou para expulsar os franceses. Três anos após a ocupação, em novembro de 1615, os franceses foram expulsos, sob o comando de Jerônimo de Albuquerque, que se tornou o primeiro capitão-mor do Maranhão. São Luís também esteve sob o controle holandês no período de 1641 a 1644.

Capital maranhense é a única fundada por franceses. (Foto: Meireles Júnior)Capital maranhense é a única fundada por franceses. (Foto: Meireles Júnior)
 
Cidade dos Azulejos
São Luís foi habitada por franceses e holandeses mas foi edificada sob domínio português durante os séculos XVIII e XIV. Nas construções, foram usados azulejos vindos, em sua maioria, de Portugal. Seus casarões e fachadas transformaram São Luís na capital brasileira com maior número de casarões em estilo tradicional português e maior conjunto arquitetônico homogêneo da América Latina
A história urbana da capital maranhense possui características da colonização portuguesa, com reflexos urbanísticos planejados no século XVII. O traçado quadrilátero ortogonal, de influência espanhola, que se adequa à declividade da área. Este traçado auxiliou na expansão do núcleo central, que continua até os dias de hoje. Esta foi uma das características que conferiu, em 1997, à cidade o título de Patrimônio Mundial reconhecido pela UNESCO.
 
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Atenas Brasileira
Após a Balaiada (revolta popular ocorrida entre 1838 e 1841 na Província do Maranhão, pela disputa pelo controle do poder local), o Maranhão atravessou uma época de estabilidade e crescimento econômico.

É nesse momento que a vida cultural em São Luís ganha expressividade com a literatura. Gonçalves Dias, João Lisboa, Cândido Mendes, Odorico Mendes, Sousândrade, Humberto de Campos e outros, são nomes que transformaram o Maranhão no palco da poesia, da prosa e da produção jornalística no século XIX. Já na transição para o século XX, outros intelectuais maranhenses destacaram-se, como os de Adelino Fontoura, Teófilo Dias, Raimundo Corrêa, Aluízio de Azevedo, Artur Azevedo, Coelho Neto, Graça Aranha, Teixeira Mendes, Nina Rodrigues.

Capital Brasileira do Reggae
O reggae invadiu São Luís no final da década de 70, através dos rádios sintonizados em ondas curtas, pelos quais a população podia ouvir os sons que vinham do Caribe. Atualmente, o ritmo é uma das peculiaridades que mais atraem os turistas para São Luís. São nos salões de reggae que as pessoas podem conhecer e dançar o ritmo sensual.

Ilha de Mistérios
A capital maranhense também é uma ilha cercada de lendas e mistérios. Pode-se destacar duas lendas como as mais importantes do imaginário maranhense, a Lenda da Serpente de São Luís e o Milagre de Guaxemduba.

A Serpente de São Luís
Conta-se que uma serpente encantada, que cresce sem parar, um dia destruirá a ilha, quando a cauda encontrar a cabeça. O animal gigantesco habitaria as galerias subterrâneas que percorrem o Centro Histórico de São Luís e, embora seu corpo descomunal esteja em vários pontos da cidade (a barriga na Igreja do Carmo, a cauda na Igreja de São Pantaleão). Há quem garanta ser possível observar, através das grades que isolam as entradas do monumento, os terríveis olhos do animal.

Milagre de Guaxenduba
No principal combate travado entre portugueses e franceses, no dia 19 de novembro de 1614, no forte de Santa Maria de Guaxenduba, os portugueses estavam por ser derrotados por sua inferioridade de homens, armas e munições. Então, surgiu entre eles uma formosa mulher envolta em auréola resplandecente. Ao contato de suas mãos milagrosas, a areia era transformada em pólvora e os seixos em projéteis, fazendo com que os portugueses se revigorassem moralmente e derrotassem os franceses. Em memória deste feito, foi a virgem considerada a padroeira da cidade, sob a invocação de Nossa Senhora da Vitória.

São Luís tem o maior conjunto arquitetônico homogêneo da América Latina (Foto: Meireles Júnior)
São Luís tem o maior conjunto arquitetônico homogêneo da América Latina (Foto: Meireles Júnior)

Ícone da Independência, rio Ipiranga corre poluído e vira ponto de drogas

Nascente e pequeno trecho ainda são preservados no Jardim Botânico. Mas quando deixa o parque, esgoto e canalização destroem suas águas.

Giovana Sanchez
Do G1 SP

Trecho do rio em frente ao monumento (Foto: Flávio Moraes/G1)
Trecho do rio em frente ao monumento (Foto: Flávio Moraes/G1)

Em frente ao Monumento da Independência, no bairro do Ipiranga, em São Paulo, um cheiro podre toma o ar. Quem se aproxima do local onde D. Pedro I deu o grito da nossa “libertação” para ver de perto o famoso riacho citado no hino nacional, encontra um cenário triste: sujeira, mau cheiro e meninos fumando crack no que sobrou de suas “margens plácidas”. Cento e noventa anos depois da Independência, esse é o estado do riacho do Ipiranga em seu lugar mais nobre.

Segundo a Companhia Ambiental do Estado de São Paulo (Cetesb), a qualidade da água deste ponto específico do rio foi avaliada como “péssima” em medições feitas em janeiro, em maio e em julho deste ano. Em todos os seus 9,5 km de extensão pela cidade, só há um ponto em que ele é realmente limpo: em sua nascente, no Jardim Botânico.

Lá, uma trilha de 20 minutos construída no meio de uma reserva da mata atlântica leva a uma das três fontes que formam o rio. Limpo e com peixes, ele segue a céu aberto até o final do parque, quando encontra outros dois córregos na cidade e começa a receber o esgoto e a sujeira que o poluem.

“Depois da descanalização, a visitação [no Jardim Botânico] aumentou bastante”, conta Tânia Cerati, diretora do núcleo de pesquisa em educação do Instituto de Botânica. Quando ela chegou ao Jardim, há 20 anos, o riacho era tampado com um concreto, obra provavelmente do começo do século XX. O acesso à uma de suas nascentes era um projeto de Tânia, concretizado em 2006. Dois anos depois, ele foi todo revitalizado, e hoje o paisagismo do parque acompanha suas águas. “Acho que aqui é um bom exemplo de que é possível restaurar a natureza e com isso compensar vários erros que cometemos no passado”, diz ela.

Imagem de negativo de vidro mostra o Riacho do Ipiranga na região onde hoje é o Monumento à Independência. Não há informações sobre a data específica da imagem, mas sabe-se que foi feita antes das obras do parque, na década de 1920 (Foto: Acervo do Museu Pasulista da USP/José Rosael / Hélio Nobre)
Imagem de negativo de vidro mostra o riacho do Ipiranga na região onde hoje é o Monumento à Independência. No detalhe, uma mulher lava roupas. Não há informações sobre a data exata da imagem, mas sabe-se que foi feita antes das obras do Monumento, na década de 1920 (Foto: Acervo do Museu Paulista da USP/José Rosael / Hélio Nobre)

'Supervalorizado'
O Ipiranga tem, e sempre teve, um volume pequeno de água - e por isso é comumente chamado de riacho. Seu uso na história do Brasil nunca foi muito relevante, e sua fama se deve principalmente ao fato de estar ligado à Independência do país. Essa tese foi defendida na dissertação de mestrado do historiador e pesquisador do Arquivo Nacional Pablo Endrigo.

Ao G1, ele disse que o riacho era inexpressivo até a Independência e que a primeira menção a ele nos documentos oficiais data de 1773 - uma tentativa de canalização que nunca aconteceu. "O uso do rio era pelos tropeiros em viagens entre São Paulo e o porto de Santos, passando pela Serra do Mar. Usavam [o rio] para beber água, lavar as botas. [...] O Ipiranga esteve em uma região praticamente desabitada. Ele é mais valorizado do que deveria pelo seu tamanho e uso."

Inscrição de apologia à maconha é vista em uma das pontes que sobrepõem o Riacho em frente ao Monumento da Independência, em agosto de 2012  (Foto: Giovana Sanchez/G1)
Inscrição de apologia à maconha é vista em uma das pontes que sobrepõem o riacho em frente ao Monumento da Independência, em agosto de 2012 (Foto: Giovana Sanchez/G1)

Segundo o historiador, a fama do rio foi crescendo com o hino nacional e com a pintura do quadro de Pedro Américo - que, ao retratar a Independência, faz um desvio topográfico deixando o riacho à frente de D. Pedro I, quando na realidade ele estaria atrás. Depois, veio a construção do Museu e do Monumento à Independência."Aí você tem a associação final: a imagem, o hino e a situação histórica."

Projetos (e paulistanos) frustrados
Embora não seja de muito uso pela cidade, a não ser para receber dejetos, o riacho tem um papel histórico para o país. O fato de estar poluído há tantos anos irrita muitos moradores da capital, que já tentaram se mobilizar para mudar a situação.

O professor de engenharia da USP Sadalla Domingos é um dos autores de um projeto de limpeza e revitalização do riacho, que cria um parque linear desde a Rodovia dos Imigrantes até o Parque da Independência. Sadalla apresentou o projeto à Prefeitura da cidade em 2005, mas não recebeu nenhuma resposta. Segundo ele, falta vontade política.

"Como é possível que um símbolo histórico do Brasil tenha chegado a este grau de poluição? Além disso, qual é a expectativa em relação ao Riacho do Ipiranga e a todos os outros rios, e por que não ampliar a questão: qual é o ambiente de cidade que desejamos?", questiona o professor, indignado.

Outro entusiasta do projeto, o professor de direito ambiental da PUC Guilherme José Purvin criou um fórum de debates sobre uma possível revitalização do Riacho e a criação de um parque ao seu redor. "O rio está morto, completamente morto. Se você for na [Avenida Dr] Ricardo Jaffet, aquilo está num estado deplorável. [...] Acho meio vergonhoso. Uma professora leva os alunos para conhecer o lugar da independência e é uma região que tem desmanche e motel", diz ele.

Professor Sadalla Domingos:  (Foto: Giovana Sanchez/G1)
Professor Domingos: 'Qual é o ambiente de cidade que desejamos?' (Foto: Giovana Sanchez/G1)

A reportagem do G1 percorreu o trajeto do riacho, da nascente até o desague, no rio Tamanduateí, e encontrou sujeira e mal cheiro em todo o caminho - a partir da saída do Jardim Botânico. Em três dias diferentes, pôde ver jovens usavando drogas nas magens que ficam em frente ao Monumento da Independência.

Procurada pelo G1, a Prefeitura de São Paulo informou que desde 1986 foram realizadas 12 obras na região, que contribuíram para diminuir o problema das enchentes. As últimas obras quase dobraram a vazão do córrego e aumentaram de 9 para 13 metros sua largura. "Além disso, as galerias e o sistema de drenagem foram substituídos e ampliados, aumentando o fluxo de escoamento da água", dizia a nota. As Subprefeituras Ipiranga e Vila Mariana também informam que a limpeza no córrego do Ipiranga é realizada mensalmente de forma manual e, em alguns trechos, com ajuda de máquinas.

A Companhia de Saneamento Básico do Estado de São Paulo (Sabesp) informa que concluiu, em julho deste ano, uma obra na região - parte da terceira fase do Projeto Tietê. Segundo a assessoria de imprensa do órgão, os investimentos foram de R$ 51,6 milhões e permitiram que 380 litros de esgoto por segundo vindos dos bairros Ipiranga, Vila Mariana, Saúde, Bosque da Saúde, Cursino, Jabaquara e Americanópolis seguissem para tratamento na estação de Barueri.

Ainda de acordo com a Sabesp, as medições feitas desde o término da obra mostram uma melhoria na qualidade da água do riacho do Ipiranga. No entanto, o último resultado da coleta feita pela Cetesb, de julho, mantém a indicação de qualidade "péssima".

Futuro
"O riacho do Ipiranga pode e deve ser recuperado como uma prioridade entre todos os rios da cidade. [...] Isto é renaturalização de corpos d'água em áreas urbanas, uma tendência em todos os países: rios são despoluidos e destampados pelo menos em alguns trechos que permitam aos cidadãos perceber que tem um rio sob seus prédios, rodas e pés. É aqui que entra a política não só como interpretação do momento, mas como intuição, uma premonição até, para tomar uma decisão hoje como antecipação de uma demanda que será inevitável e muito mais cara ou até impossível [no futuro]", explica o professor Sadalla.

Ele termina a entrevista expressando um desejo, quase uma profecia, em nome de muitos brasileiros: "Antecipemos o início das programações do bicentenário da Independência e iniciemos no Ipiranga a limpeza de todas os nossas águas."

Fim de tarde de agosto em frente ao Monumento da Independência, no bairro do Ipiranga (Foto: Giovana Sanchez/G1)
Fim de tarde de agosto em frente ao Monumento da Independência, no bairro do Ipiranga Foto: Giovana Sanchez/G1)
 

sexta-feira, 7 de setembro de 2012

O Grito do Ipiranga

O destino cruzou o caminho de D. Pedro em situação de desconforto e nenhuma elegância. Ao se aproximar do riacho do Ipiranga, às 16h30 de 7 de setembro de 1822, o príncipe regente, futuro imperador do Brasil e rei de Portugal, estava com dor de barriga. A causa dos distúrbios intestinais é desconhecida. Acredita-se que tenha sido algum alimento malconservado ingerido no dia anterior em Santos, no litoral paulista, ou a água contaminada das bicas e chafarizes que abasteciam as tropas de mula na serra do Mar. (...)

A montaria usada por D. Pedro nem de longe lembrava o fogoso alazão que, meio século mais tarde, o pintor Pedro Américo colocaria no quadro "Independência ou Morte", também chamado de "O Grito do Ipiranga", a mais conhecida cena do acontecimento. (...) uma mula sem nenhum charme, porém forte e confiável. Era essa a forma correta e segura de subir a serra do Mar naquela época de caminhos íngremes, enlameados e esburacados.


Foi, portanto, como um simples tropeiro, coberto pela lama e a poeira do caminho, às voltas com as dificuldades naturais do corpo e de seu tempo, que D. Pedro proclamou a independência do Brasil. (...)

Quatro anos mais tarde, em depoimento por escrito, padre Belchior (com 24 anos naquele momento, mesma idade de D. Pedro, nascido em Diamantina-MG, era vigário da cidade mineira de Pitangui, maçom e sobrinho de José Bonifácio) registrou o que havia testemunhado a seguir:

D. Pedro, tremendo de raiva, arrancou de minhas mãos os papéis e, amarrotando-os, pisou-os e deixou-os na relva. Eu os apanhei e guardei. Depois, virou-se para mim e disse:
- E agora, padre Belchior?
Eu respondi prontamente:
- S Vossa Alteza não se faz rei do Brasil será prisioneiro das cortes e, talvez, deserdado por elas. Não há outro caminho senão a independência e a separação.
D. Pedro caminhou alguns passos, silenciosamente, acompanhado por mim, Cordeiro, Bregaro, Carlota e outros, em direção aos animais que se achavam à beira do caminho. De repente, estacou já no meio da estrada, dizendo-me:
- Padre Belchior, eles o querem, eles terão a sua conta. As cortes me perseguem, chamam-me com desprezo de rapazinho e de brasileiro. Pois verão agora quanto vale o rapazinho. De hoje em diante estão quebradas as nossas relações. Nada mais quero com o governo portugês e proclamo o Brasil, para sempre, separado de Portugal.
Respondemos imediatamente, com entusiasmo:
-Viva a Liberdade! Viva o Brasil separado! Viva D. Pedro!

Fonte: GOMES, Laurentino. O Grito. In: 1822: como um homem sábio, uma princesa triste e um escocês louco por dinheiro ajudaram D. Pedro a criar o Brasil, um país que tinha tudo para dar errado. Rio de Janeiro: Nova Fronteira, 2010, pp. 29-42.


Governo Eurico Gaspar Dutra (1946-1950)

Constituição de 1946: quinta Constituição brasileira (quarta Constituição do período republicano). Promulgada em 18 de setembro, caracterizou-se por ser liberal, atendendo mais aos interesses dos grandes empresários do que aos dos trabalhadores.

      · Princípios básicos: estabelecimento da Democracia, como regime político; manutenção da República, como forma de governo; o Presidencialismo, como sistema de governo; e a Federação, como forma de Estado.

      · Conferia poderes ao Legislativo, ao Executivo e ao Judiciário, para atuarem de forma independente e equilibrada;

      · Voto secreto e universal para os maiores de 18 anos;

      · Preservação da Legislação Trabalhista, tendo como novidade a garantia constitucional do direito de greve aos trabalhadores, mediante apreciação da Justiça do Trabalho;

      · Estabelecimento do mandato presidencial de cinco anos, proibindo-se a reeleição; deputados teriam mandato de quatro anos, permitindo-se a reeleição; senadores teriam mandato de oito anos, em número de três para cada estado.

    Teve seu governo marcado por relativa tranqüilidade política. Aliou-se ao bloco liderado pelos Estados Unidos da América, caracterizando-se por um restrito liberalismo econômico, ou seja, pelos princípios da não-intervenção do Estado na economia, com a abertura do país às importações.

      · As reservas nacionais de moedas estrangeiras, acumuladas durante os anos de guerra, foram usadas para financiar importações de produtos supérfluos ou de mercadorias já produzidas no país.

      · Diminuição do ritmo de crescimento da indústria nacional; aumento da dívida externa; comprometimento da balança de pagamentos.

      · Abandono do nacionalismo econômico da Era Vargas (1930-1945).

    Devido aos protestos dos líderes das entidades industriais brasileiras contra a liberação indiscriminada das importações, que lutavam por uma política de seleção das importações (compra de bens de produção como máquinas, equipamentos industriais e combustíveis), Dutra passou a dificultar as importações incorporando um tímido intervencionismo.

      · Controle do câmbio; regulamentação das importações; súbita valorização do café no mercado internacional, fez com que o Brasil registrasse um saldo favorável na balança comercial, em 1950, o primeiro positivo desde 1947 (crescimento médio de 6% ao ano).

    Plano Salte (Saúde, Alimentação, Transporte e Energia): ponto alto do intervencionismo, procurou criar uma política de investimentos em setores públicos considerados prioritários.

      · Lançado em maio de 1947, constituía uma tentativa de coordenar os gastos do governo. Devido a falta de competência administrativa e pouco dinheiro, o plano jamais foi adotado inteiramente. O governo realizou poucos objetivos, entre os quais a conclusão da rodovia Rio – São Paulo (Presidente Dutra) e a compra de ferrovias inglesas que haviam sido instaladas no Brasil no século XIX.

    Conservadorismo na política interna:

      · Em maio de 1947, Dutra cassou o registro do PCB (Partido Comunista Brasileiro), retornando-o à ilegalidade sob o pretexto de ser representante da URSS (União das Repúblicas Socialistas Soviéticas), com quem rompeu relações diplomáticas. Todos os parlamentares eleitos por esse partido tiveram seus mandatos cassados, inclusive o senador Luis Carlos Prestes.

      · Iniciou intervenções nos sindicatos e suspendeu o direito de greve.

    Nas eleições presidenciais para a sucessão de Dutra, Getúlio Vargas concorreu, pelo PTB (Partido Trabalhista Brasileiro), e venceu obtendo 48% dos votos válidos, sendo o segundo colocado Eduardo Gomes, da UDN (União Democrática Nacionalista), com 29%, e Cristiano Machado, do PSD (Partido Socialista Democrático), em terceiro com 21% dos votos.

 

segunda-feira, 27 de agosto de 2012

“Os colegas de Anne Frank”

Livro relata o encontro do autor, Theo Coster, com cinco sobreviventes do holocausto, entre eles, Nanette Blitz Konig, amiga de Anne Frank, de 83 anos, que refez a vida no Brasil.

Quase 70 anos depois da morte de Anne Frank - a adolescente judia que relatou em um diário os horrores do nazismo - os amigos que estudaram com ela se reúnem para homenageá-la! Encontramos uma das colegas em São Paulo. Uma mulher que conviveu com Anne Frank num campo de concentração

Como lidar com as sequelas de um campo de concentração? “Eu fiquei perto de ficar, realmente, de enlouquecer. conta Nanette Blitz Konig, economista. Da loucura, Nanette se livrou. Das lembranças da guerra, não.

“A mente humana não possui um botão de apagar. Não tem”, afirma Nanette.

Nanette Konig foi colega de aula de Anne Frank, a adolescente judia que se escondeu com a família para fugir dos nazistas na Holanda, ocupada durante a Segunda Guerra Mundial. Ela ficou famosa por causa do diário que escreveu no esconderijo, um anexo secreto da fábrica do pai.

“Quando você lê o livro, você vê que ela amadurece enquanto escreve”, diz Nanette.

“O Diário de Anne Frank”, publicado depois da morte da autora num campo de concentração, tornou-se um dos livros mais traduzidos do mundo.

“O livro registra as emoções de uma menina de 13 anos que quer namorar, que quer viver, que vê um futuro à sua frente e que registra também o seu olhar para além daquelas janelas. Uma vida de violência, uma vida de prisões, de mortes e da qual ela vai ser inclusive uma das protagonistas”, explica Maria Luiza Tucci Carneiro, historiadora da USP.

Mais de 60 anos depois da publicação do diário, a história da adolescente judia é recontada em outro livro. “Os colegas de Anne Frank” relata o encontro do autor, Theo Coster, com outros cinco sobreviventes do holocausto. Todos eles estudaram com Anne no Liceu Judaico de Amsterdã.

O encontro também foi registrado num documentário. Os colegas de Anne Frank se reúnem na Holanda para ler dedicatórias deixadas por ela em diários escolares. E se emocionam ao visitar o compartimento secreto onde Anne se escondeu.

“Ela escreveu para mim em 26 de abril de 1942, e me desejou uma vida longa e feliz. Mas exatamente um ano depois, em abril de 1943, ela era levada para o campo de extermínio de Sobibor”, lembra Hannah Goslar.

Theo Coster mostra a porta secreta do anexo. O filme mostra uma imagem rara de Anne Frank, em 1941. Theo explica ao neto que uma das sobreviventes conviveu com ela num campo de concentração. É Nanette Konig, que hoje mora no Brasil.

Nanette mora na zona oeste de São Paulo, e logo no primeiro contato por telefone, a senhora prontamente aceitou receber o Fantástico, deixando claro que lembrar, talvez, seja a melhor maneira de superar o passado.

Nanette tem 83 anos e vive na mesma casa desde 1959. Rodeada por um belo jardim, ela refez a vida. Se casou com um executivo húngaro, teve três filhos, seis netos e três bisnetos. A curiosidade natural de todos era saber porquê na família não havia outros avós, tios ou primos. Então, ela montou um museu pessoal para responder aos filhos, netos e bisnetos.

Dos tempos da perseguição nazista e do cativeiro, Nanette guarda fotos, documentos e lembranças dolorosas, como a última carta do pai, que assim como a mãe e os irmãos, também morreu num campo de concentração.

Nanette lembra claramente da festa de aniversário de 13 anos de Anne Frank, sua colega no Liceu Judaico. “Eu vi os presentes que ela ganhou, e um dos presentes foi o primeiro diário”, lembra.

Logo Anne Frank iria para o esconderijo da família. Seus colegas permaneceram no Liceu.

Tinham 30, e só sobraram 14 para o segundo ano. Em um ano, metade da classe já tinha sido levada pelos nazistas.

As pessoas foram desaparecendo aos poucos.

“Porque tinha uma meta por semana de tantos judeus que tinham de ser mandados para Westborough e para campos de extermínio”, diz Nanette.

Em fevereiro de 1944, Nanette foi levada para o campo de concentração de Bergen Belsen, na Alemanha, onde encontrou Anne Frank muito debilitada.

Nanette lembra que o encontro foi inesquecível. “Eu primeiro a vi através do arame farpado. Ela estava embrulhada num cobertor, ela não aguentava mais a roupa cheia de piolhos, estava tremendo de frio e era um esqueleto. Eu até hoje não sei como dois esqueletos pudessem se reconhecer”.

Anne contou sobre os planos de escrever um livro usando anotações no diário e em papéis avulsos.

“Nós estávamos sonhando. Não sabíamos nada, estávamos sonhando, com toda a convicção de que as duas iriam sobreviver, o que, infelizmente, não aconteceu”, diz Nanette.

Anne Frank morreu em março de 1945.

“Encontrei com ela várias vezes, até que ela ficou mal e foi para uma barraca. E eu não estava lá, quando ela morreu, não. Aí nunca mais a vi”, conta Nanette.

Quando o exército inglês invadiu o campo de concentração onde estava, Nanette foi encontrada à beira da morte. Ela conta que estava pesando, quando já tinha comido alguma coisa, 32 kg. Nanette só se salvou porque um oficial arranjou vaga num avião para que ela fosse levada à Inglaterra. “Ele fez isso porque realmente era um judeu”, conta.

Nanette nunca mais encontrou o seu salvador. “Quem viu o que ele viu não era possível que ele mantivesse contato, porque deve ter sido traumatizado fora de qualquer imaginação”.

Inimaginável para Nanette é ter vivido o que ela viveu e se calar. “Dizer ‘nunca mais’ não basta. Nós temos que fazer parte desse ‘nunca mais’. Eu falo em nome de todos aqueles que não estão mais aqui para falar. É obrigação minha e dos outros falar, para que eles sejam lembrados”, destaca Nanette.
Fonte: Fantástico (Globo).



domingo, 26 de agosto de 2012

selo armstrong (Foto: Nasa)
O astronauta norte-americano Neil Armstrong, primeiro homem a pisar na Lua, morreu neste sábado aos 82 anos. Em comunicado, sua família informou que a morte resultou de complicações ocorridas depois de uma cirurgia cardiovascular em Columbus (Ohio).

Veja também:
Charge: Morre Neil Armstrong, 1º homem a pisar na Lua
Veja fotos da trajetória de Armstrong

Nascido em Wapakoneta (Ohio), em 5 de agosto de 1030, filho de um auditor do governo de Ohio, Armstrong aprendeu a pilotar aviões quando adolescente e já tinha brevê aos 15 anos, antes de ter habilitação para dirigir carros. Começou a estudar engenharia aeronáutica em 1947 na Universidade Purdue e chegou a ser aceito pelo prestigioso Instituto de tecnologia de Massachusetts (MIT), mas não chegou a cursar.

Como tinha uma bolsa de estudos financiada pela Marinha - num esquema de estudar dois anos, servir à Força naval durante três anos e depois voltar aos estudos -, Armstrong teve de interromper a atividade acadêmica. Qualificado como piloto de aviões navais de ataque, participou de 78 missões de combate na Guerra da Coreia (1050-53), antes de voltar a estudar. Formou-se engenheiro aeronáutico em Purdue em 1955 e ais tarde, em 1070, obteve um título de mestrado em engenharia aeronáutica na Universidade do Sul da Califórnia.

Em 1955, Armstrong começou a trabalhar como piloto de testes de aeronaves experimentais na Estação de Voo de Alta Velocidade do Comitê Assessor Nacional para Aeronáutica, na base aérea Edwards, na Califórnia. Ali, participou do esforço norte-americano para romper a barreira da velocidade do som, chegando a voar com o piloto que conseguiria aquela façanha, Chuck Yeager. Armstrong também participou de voos de teste de aviões experimentais famosos, como o X-1 e o X-15. Em sua carreira como piloto de testes, ele acumulou 2.400 horas de voo em mais de 200 modelos diferentes de aviões; com o X-15, ele alcançou a altitude máxima de 63,2 mil metros e uma velocidade máxima de 6.615 km/h, ou 5,74 vezes a velocidade do som.

Em 1958, Armstrong foi selecionado para ser um dos pilotos-engenheiros do programa "Homem no Espaço Mais Cedo", da Força Aérea, com o qual os EUA pretendiam competir com o programa espacial soviético, mais avançado na época. A partir de 1962, ele passou a integrar o corpo de astronautas da Nasa (Administração Nacional de Aeronáutica e Espaço), do qual era um dos dois únicos civis. Mas ele não foi o primeiro não-militar a chegar ao espaço: a façanha foi realizada por Valentina Tereshkova, trabalhadora da indústria têxtil, na nave soviética Vostok 6, em junho de 1963.

Armstrong foi ao espaço pela primeira vez em março de 1966, na oitava missão do projeto Gemini. A partir do começo de 1967, ele participou do projeto Apollo, para levar uma nave tripulada à Lua. Em dezembro de 1968, quando a Apollo 8 fazia a primeira órbita em torno da Lua, Armstrong foi escolhido para ser o comandante da missão Apollo 11, que contaria também com Edwin Aldrin como piloto do módulo lunar e Michael Collins como piloto do módulo de comando. Em uma reunião da Nasa em março de 1969 ficou decidido que Armstrong, e não Aldrin, seria o primeiro homem a pisar na Lua (Collins ficaria em órbita lunar com o módulo de comando).

O lançamento da Apollo 11 foi em 16 de julho de 1969 e o pouso na lua aconteceu no dia 20. Quando o módulo lunar Eagle pousou no Mar da tranquilidade, Armstrong transmitiu a informação: "Aqui, Base Tranquilidade; a Águia pousou". Sua frase mais famosa, porém, foi quando seus pés tocaram a superfície lunar pela primeira vez: "Um pequeno passo para um homem, mas um grande passo para a humanidade".

Logo depois de voltar à Terra, Armstrong anunciou que não pretendia voltar ao espaço. Ele foi nomeado vice-administrador associado para Aeronáutica em um programa novo, a Agência de Projetos de Pesquisa Avançada para a Defesa (Darpa), cujo projeto mais famoso viria a ser conhecido como internet.

Armstrong deixou a Nasa e a Darpa em 1971, passando a atuar como professor de engenharia aeroespacial na Universidade de Cincinnati. Mais tarde, trabalhou para empresas como Chrysler, Marathon Oil, Learjet, Cincinnati Gas & Electric, United Airlines e Eaton. Sofreu seu primeiro ataque cardíaco em 1991.

A primeira mulher de Armstrong, Janet, divorciou-se dele em 1994, depois de 38 anos de casamento. Ele se casou novamente, com Carol Held Knight, no mesmo ano. Em 7 de agosto deste ano, Armstrong foi hospitalizado em um hospital em Columbus para desobstrução da artéria coronária. As informações são da Dow Jones e da Associated Press.

 
Fonte: Yahoo! Notícias.

P.S.: Além de Armstrong, outros 11 homens caminharam na Lua entre 1969 e 1972.

1- Neil Armstrong, na nave Apollo 11, em 1969. Nasceu em 1930 e morreu em 2012.

2- Buzz Aldrin, na Apollo 11, também em 1969. Ele nasceu em 1930.

3- Charles "Pete" Conrad, na Apollo 12, em 1969. Nasceu em 1930 e morreu em 1999.

4- Alan L. Bean, na Apollo 12, em 1969. Nasceu em 1932.

5- Alan Shepard, na Apollo 14, em 1971. Nasceu em 1923 e morreu em 1998.

6- Edgar D. Mitchell, na Apollo 14, em1971. Nasceu em 1930.

7- David Scott, na Apollo 15, em 1971. Nasceu em 1932.

8- James B. Irwin, na Apollo 15, em 1971. Nasceu em 1930 e morreu em 1991.

9- John Young, na Apollo 16, em 1972. Nasceu em 1930.

10- Charles M. Duke Jr., na Apollo 16, em 1972. Nasceu em 1935.

11- Eugene A. Cernan, na Apollo 17, em 1972. Nasceu em 1934.

12 - Harrison "Jack" Schmitt, na Apollo 17, em 1972. Nasceu em 1935.

quarta-feira, 22 de agosto de 2012

América Latina é a região mais urbanizada e desigual do mundo, diz ONU

Cerca de 90% da população do Brasil e do resto do Cone Sul viverá nas cidades em apenas oito anos, enquanto em toda a América Latina, a região mais urbanizada do mundo, a brecha entre pobres e ricos aumenta em muitos países, onde mais de um quarto da população mora em favelas e comunidades carentes, advertiu a ONU esta terça-feira.

"A América Latina é a região mais urbanizada do mundo, mas também uma das menos povoadas em relação ao seu território. Quase 80% de sua população vive em cidades, uma proporção superior à do grupo de países desenvolvidos", diz um relatório da ONU-Habitat, o programa da ONU para Assentamentos Humanos.

O Cone Sul, do qual o Brasil faz parte, é a região onde há uma proporção maior da população vivendo em cidades, seguido pelos países andinos e pelo México - com uma taxa de população urbana de 85% atualmente -, e depois por Caribe e América Central.

Paralelamente, entre 1990 e 2009 a desigualdade aumentou em Colômbia, Paraguai, Costa Rica, Equador, Bolívia, República Dominicana, Argentina e Guatemala, segundo o relatório.

Na região com 588,6 milhões de habitantes, considerada desde os anos 1970 a mais desigual do mundo, 20% da população mais rica têm em média uma renda per capita quase 20 vezes superior à renda dos 20% mais pobres.

"O principal desafio é como combater as desigualdades que existem nas cidades. É uma contradição bem grande do modelo econômico da América Latina em geral", disse Erik Vittrup, especialista da ONU-Habitat.

Na região, os países mais desiguais com base na distribuição de renda são, nesta ordem, Guatemala, Honduras, Colômbia, Brasil, República Dominicana e Bolívia, enquanto os menos desiguais são Venezuela, Uruguai, Peru e El Salvador.

"A desigualdade de renda é extremamente elevada. Há um déficit considerável de emprego e uma abundante informalidade, que se concentra nos jovens e nas mulheres", diz a ONU.

Apesar dos progressos feitos por América Latina e Caribe nos últimos 10 anos, 124 milhões de pessoas vivem na pobreza nas cidades, mais da metade no Brasil (37 milhões) e no México (25 milhões).

Mais de um quarto da população urbana, 111 milhões de pessoas, vive em favelas, um número maior do que há 20 anos, segundo a ONU.

O número de cidades na região aumentou seis vezes em 50 anos. A metade da população urbana, 222 milhões de pessoas, mora em cidades com menos de 500.000 habitantes e 14% (65 milhões de pessoas) vivem em megacidades, destacou o relatório, intitulado "O estado das cidades da América Latina".

O documento destaca com preocupação que as cidades latino-americanas continuam se expandindo fisicamente de uma forma que "não é sustentável", apesar da desaceleração demográfica.

"É ridículo continuar propondo modelos urbanos (...) com grandes programas habitacionais em enormes áreas (distantes) quando a vantagem das cidades é a concentração de cidadãos, infraestrutura e serviços. A densidade urbana está diminuindo quando deveria aumentar. (...) Não precisamos de mais terra", disse Vittrup, pedindo aos governos para "orientar os mercados imobiliários".

O especialista da ONU-Habitat mencionou o exemplo do México, onde foram construídos cinco milhões de casas em áreas distantes que davam a investimentos o melhor retorno, mas que acabaram ficando vazias porque ninguém queria se mudar para lá.

"É dramático que os governos façam residências para os pobres que ninguém vai utilizar. Estamos reproduzindo modelos que sabemos que não funcionam", afirmou.

O relatório destaca que o crescimento demográfico e a migração do campo para a cidade perderam força e que "a evolução demográfica das cidades tende a se limitar a um crescimento natural".

"As migrações agora são mais complexas e ocorrem principalmente entre cidades, às vezes através de fronteiras internacionais", de uma cidade para outra ou entre o centro e a periferia, sustenta.

O relatório destaca com preocupação que as cidades são cada vez menos compactas e seguem se expandindo fisicamente, apesar da desaceleração demográfica, de uma maneira que "não é sustentável".

As 40 principais cidades da América Latina produzem anualmente um PIB de mais de 842 bilhões de dólares e são verdadeiros motores da economia regional, segundo a ONU.

Fonte: Yahoo! Finanças.

segunda-feira, 20 de agosto de 2012

Livro lembra os 70 anos dos ataques que levaram Brasil entrar na 2º Guerra

Em 1942, cinco navios brasileiros foram atacados pelos nazistas. Sobrevivente é a protagonista do livro-reportagem que conta episódio.


Na Bienal do Livro, uma publicação foi lançada na quinta-feira (16/08) lembrando os 70 anos dos ataques de submarinos alemães que acabaram levando o Brasil a entrar na Segunda Guerra Mundial.

Depois de passar horas boiando numa caixa de madeira usada para transporte de leite condensado, uma menininha foi resgatada. Era Walderez Cavalcante. Ao lado do pai, sobreviveu ao naufrágio do navio Itagiba, torpedeado pelo submarino alemão. “Quando pegaram meu pai, ele pergunta por mim. Então disseram que eu não tinha sido recolhida. Então ele pede que larguem ele, porque ele também não quer sobreviver. Então é quando veem uma caixa boiando, muito distante. Fui a última sobrevivente a ser recolhida”, conta a sobrevivente, Walderez Cavalcante.

O jornalista Marcelo Monteiro passou os três últimos anos atrás de Walderez Cavalcante. Ela é a protagonista do livro-reportagem que conta um episódio marcante da história do Brasil. Entre os dias 15 e 17 de agosto de 1942, cinco navios brasileiros foram atacados pelos nazistas.

“O que eu acho que é muito relevante: em três dias, em menos de 72 horas, morreram 607 pessoas. Se a gente for fazer um paralelo com o que morreu de gente com a participação brasileira na guerra, que foram 465 pessoas em um ano, a gente pode ter uma ideia da dimensão desse episódio”, diz o autor Marcelo Monteiro.

O prefácio, que é do escritor Luis Fernando Veríssimo, diz que esse livro "lança luz sobre as sombras que ficaram para trás, as histórias que ainda faltavam contar". Realmente, apesar da importância histórica desse fato, que levou o Brasil a entrar na Segunda Guerra Mundial, ele ainda é pouco conhecido pelos brasileiros.

Walderez demorou uma vida inteira para conseguir falar a respeito, e até hoje quando lembra, se emociona. “Sempre dá vontade de chorar. “Eu controlo, mas é difícil”.

Fonte: Jornal da Globo (G1).


O livro
Título: U-507 - O submarino que afundou o Brasil na Segunda Guerra Mundial
Autor: Marcelo Monteiro
Prefácio: Luís Fernando Veríssimo
Formato: 16X23 cm
Páginas: 350
ISBN: 978-85-8013-121-5