Primeira mulher premiê do Reino Unido morreu aos 87, vítima de derrame.
Polêmica, Thatcher era chamada de Dama de Ferro devido ao pulso firme.
Morreu nesta segunda-feira (08/04/2013) aos 87 anos Margaret Thatcher, primeira mulher a se tornar primeira-ministra britânica, cargo no qual ficou por três mandatos consecutivos, entre 1979 e 1990.
Ela foi uma das figuras dominantes na política inglesa no século XX, ao dirigir um governo que reduziu o tamanho do Estado e transformou o Reino Unido.
Sua política neoliberal, que entrou para a história com o nome de “thatcherismo”, ainda influencia líderes mundialmente e é criticada e elogiada até hoje, inclusive no Brasil.
O porta-voz da família de Thatcher informou ela morreu em Londres, em consequência de um acidente vascular cerebral.
"É com grande tristeza que Mark e Carol Thatcher anunciam que sua mãe, a baronesa Thatcher, morreu em paz depois de um derrame, esta manhã," disse o Lorde Tim Bell, o porta-voz.
Repercussão
Após sua morte, o atual premiê britânico, o conservador David Cameron, disse que o Reino Unido "perdeu uma grande líder, uma grande primeira-ministra e uma grande britânica".
O premiê voltou ao Reino Unido, interrompendo uma visita a países europeus. Ele estava em Madri, capital da Espanha, para encontrar seu colega Mariano Rajoy, quando soube da morte. Ele iria depois a Paris, para conversar com o presidente Francois Hollande.
A Rainha Elizabeth II também lamentou a morte de Thatcher. "A rainha recebeu com grande tristeza a notícia da morte da baronesa Thatcher", comunicou o palácio de Buckingham.
Leia mais repercussões sobre a morte da Dama de Ferro.
Doença
Thatcher havia sido internada pela última vez em dezembro de 2012, quando passou por uma cirurgia na bexiga.
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Ela não falava em público desde 2002, quando os médicos desaconselharam a presença diante de audiências após uma série de pequenos derrames que deixaram como sequela confusões ocasionais e perdas de memória.
A filha Carol escreveu em suas memórias, publicadas em 2008, que, nos piores momentos, Thatcher tinha dificuldades para terminar as frases e esquecia que o marido, Denis, havia morrido em 2003.
Cerimônia fúnebre e cremação
O governo britânico anunciou que Thatcher, cujo nome completo era Margaret Hilda Thatcher, terá um "funeral cerimonial", com honras militares, mas não um "funeral de Estado". Ele será realizado na Catedral de Saint Paul, em Londres.
O funeral cerimonial está abaixo do funeral de Estado, realizado pela última vez no Reino Unido para alguém de fora do círculo da monarquia em 1965, por ocasião da morte de Winston Churchill.
Os últimos funerais do mesmo tipo reservado a Thatcher foram realizados pela morte da rainha Elizabeth, a "Rainha-mãe", em 2002, e de Diana, princesa de Gales, em 1997.
Ainda não foi definida uma data, e mais detalhes serão divulgados nos próximos dias.
"Uma ampla e diversa variedade de pessoas com grupos e ligações com Lady Thatcher vai ser convidada", disse o escritório do premiê.
"O serviço vai ser seguido por uma cremação privada. Todos os preparativos estão sendo tomados em linha com os desejos da família", diz o texto de Downing Street.
Vida
Margaret Hilda Roberts nasceu em 13 de outubro de 1925 em Grantham, Lincolnshire.
Seu pai era pastor e membro do conselho da cidade, além de comerciante.
Na casa da família, a missa era obrigatória, e o trabalho, em casa ou ajudando o pai no comércio, era uma segunda religião, razão pela qual a jovem saía pouco.
Por conta disso, ela se tornou uma "viciada em trabalho".
Pessoas próximas contam que ela costumava dormir quatro horas diárias e trabalhava "o resto do tempo".
Maggie graduou-se em química em Oxford em 1947 e depois também estudou direito, formando-se em 1954.
Desta época, data o seu interesse e sua aproximação da política
Em 1951, casou-se com Denis Thatcher, um rico homem de negócios, com quem, dois anos depois, teve dois filhos gêmeos, Carol e Mark.
Além de lhe dar seu nome, Denis a acompanhou e apoio durante mais de 50 anos de casamento, até morrer em 2003.
Carreira política
Thatcher se tornou membro dos Tories, como é chamado o Partido Conservador, no Parlamento de Finchley, ao norte de Londres, em 1959, onde cumpriu mandato até 1962.
Seu primeiro cargo parlamentar foi como ministra-assistente para previdência no governo de Harold Macmillan.
De 1964 a 1970, quando o Partido Trabalhista assumiu o poder, ela ocupou diversos cargos no gabinete de Edward Heath. Heath se tornou primeiro-ministro em 1970, e Thatcher, sua secretária de Educação.
Durante o período que ocupou a pasta, ela aumentou o orçamento da educação no país, mas foi criticada por abolir o leite que era gratuito em escolas para crianças.
A medida polêmica lhe deu o apelido de “Thatcher the Milk Snatcher”, algo como “Thatcher, a Ladra de Leite”.
Após os conservadores sofrerem nova derrota, em 1974, Thatcher concorreu com Heath pela liderança do partido e, para surpresa de muitos, venceu a indicação. Em 1979, o Partido Conservador venceria as eleições gerais, e ela se tornaria primeira-ministra, aos 54 anos.
Cinco anos antes, ela havia declarado: "Serão necessários anos - e não verei isso de novo durante a minha vida - para que uma mulher dirija este partido ou se torne primeiro-ministro".
Leia outras frases marcantes de Thatcher.
‘Thatcherismo’
Com ideias arrojadas, ela criou uma nova expressão no dicionário inglês: “thatcherismo”, que significa uma política que privilegia a liberdade de mercado, as privatizações, preconiza menos intervenção do governo na economia e mais rigor no tratamento com os sindicatos de trabalhadores.
Suas políticas conseguiram reduzir a inflação, mas o desemprego aumentou dramaticamente no período.
Durante seu governo, os sindicatos foram amordaçados, setores inteiros da economia (telecomunicações, ferrovias, aeronáutica) foram privatizados, e o chamado "Estado de bem-estar social" foi desmantelado.
Os impostos e os gastos públicos foram reduzidos. Veja o legado econômico do governo Thatcher.
Adversários diziam que Thatcher havia criado uma nação dividida entre o sul, mais rico, e o norte, mais pobre.
Os círculos empresariais a veneravam, mas sua revolução também se chocava com fortes resistências, uma divisão vigente até hoje na avaliação de seu legado.
Nos primeiros anos de seu mandato, foi superada a marca de três milhões de desempregados, nível inédito desde os anos 1930, pós-Grande Depressão.
Cresceram o mal-estar social e os confrontos com os sindicatos, contra os quais declarou uma guerra sem quartel. Não por menos, alguns britânicos foram às ruas celebrar a morte da ex-premiê.
No início dos anos 1980, os mineradores em greve se chocaram com a intransigência da Dama de Ferro, diferente do modo de atuar dos governos anteriores. Seus aliados afirmam que ela evitou que o país caísse vítima de uma crise energética.
Nova vitória
Apesar dos confrontos e polêmicas, o sucesso militar na guerra com a Argentina pelas Ilhas Malvinas, em 1982, e uma oposição trabalhista rachada ajudaram Thatcher a conquistar uma nova vitória nas eleições de 1983.
Em 1982, quando as tropas argentinas desembarcaram no arquipélago austral das Malvinas, sob dominação britânica desde 1833, Thatcher enviou uma força naval que em dois meses, facilmente, recuperou as ilhas, chamada de Falklands pelos britânicos.
A vitória encaminhou sua reeleição em 1983.
A Argentina reclama posse sobre as ilhas até hoje.
Atentado
Em 1984, Thatcher escapou por pouco de um atentado do IRA (o Exército Republicano Irlandês, com quem foi intransigente), que instalou um carro-bomba numa conferência do Partido Conservador em Brighton. Cinco pessoas morreram e vários ficaram feridas, inclusive colegas dela.
Horas depois do atentado, cumprindo a agenda, ela fez o pronunciamento de encerramento da conferência anual do Partido Conservador, prometendo não fazer concessões na luta contra o terrorismo.
Fim da Guerra Fria
Thatcher cultivou uma relação muito próxima e pessoal com o então presidente dos EUA, o republicano Ronald Reagan, e o reformista líder soviético Mikhail Gorbachov, o que a fez ter um papel importante no fim da Guerra Fria, que opunha os blocos capitalista e comunista.
Por conta disso, nessa época, recebeu, da imprensa soviética, o apelido de “Dama de Ferro”. Era para ser uma crítica, mas ela gostou e "adotou" o apelido.
"Margaret Thatcher era uma grande personalidade política e uma pessoa brilhante. Ela permanecerá na memória e na história", disse Gorbachov sobre a morte, citado pela agência russa Interfax.
Com cartaz 'a bruxa está morta', mulher comemora a morte de Margaret Thatcher nesta segunda-feira (8) em Londres (Foto: AFP)
Ceticismo europeu
Ao nacionalismo de Thatcher, somou-se uma desconfiança em relação à União Europeia. Suas críticas aos "burocratas de Bruxelas", gestores do bloco, entraram para a história.
A União Europeia (UE) lamentou nesta segunda a morte da ex-primeira-ministra britânica , que será recordada por suas "contribuições e por suas reservas ao projeto europeu".
O presidente da Comissão Europeia, José Manuel Barroso, destacou que a ex-dirigente foi "uma pessoa-chave, e também circunspecta" em relação à construção do projeto europeu.
Terceiro mandato e queda
Nas eleições de 1987, Thatcher ganhou um inédito terceiro mandato. Mas suas políticas controversas, como a adoção de novos impostos (a famosa "Poll Tax", que provocou protestos de rua) e a oposição a qualquer integração mais próxima com a Europa, levaram sua popularidade a cair para o nível mais baixo desde que ela havia assumido o poder, em 1979.
A política interna da primeira-ministra começava a fracassar. Com a inflação alta, o país caminhava para a recessão, e sua liderança começou a ser questionada dentro do próprio Partido Conservador.
Em novembro de 1990, ela concordou em renunciar ao cargo e à liderança do partido, sendo substituída por John Major. A renúncia ocorreu em 22 de novembro.
Ela foi a recordista de tempo de permanência no poder no século XX, com 11 anos.
Bandeira britânica a meio mastro nesta segunda-feira (8) em Downing Street 10, residência oficial do premiê, em homenagem a Margaret Thatcher (Foto: Reuters)
Aposentadoria
Após sua saída em prantos de Downing Street, residência oficial do premiê britânico, a baronesa Thatcher se refugiou no elegante bairro londrino de Belravia, onde continuou preparando lucrativas conferências e redigindo suas memórias.
Em fevereiro de 2007, ela tornou-se a primeira ex-chefe de Governo a ser homenageada com uma estátua no Parlamento ainda em vida.
Na época, já havia uns cinco anos que ela não falava e praticamente não era vista em público, depois de ter sofrido dois acidentes vasculares cerebrais leves e devido ao aumento de sua demência senil.
Mas ela viveu o suficiente para ver outro conservador, David Cameron, no poder, depois, depois de 13 anos de governos trabalhistas, embora Cameron tenha sido obrigado a formar uma inédita coalizão com os liberais-democratas.
Em um de seus primeiros discursos importantes, alguns meses depois de sua eleição, em maio de 2010, Cameron, que se apresenta como mais moderado que sua predecessora, definiu Thatcher como "a melhor primeira-ministra em tempos de paz do último século".
Suas radicais posições direitistas alteraram tão profundamente a política britânica que os governos trabalhistas que a sucederam aceitaram muitas das suas políticas, criando o chamado "Novo Trabalhismo", sob os governos de Tony Blair e Gordon Brown.
Em 2011, ela voltou a ser notícia ao ser lançado, no cinema, o filme "A Dama de Ferro". A polêmica produção rendeu a Meryl Streep seu terceiro Oscar de melhor atriz.
Meryl afirmou que Thatcher foi uma pioneira para as mulheres.
Veja essa e outras vezes em que Thatcher foi tema de filmes e de músicas.
Personalidade
Thatcher notoriamente ignorava seus críticos.
"A senhora não é de recuar", disse ela num célebre discurso de 1980 a membros do seu Partido Conservador que pediam mais moderação no seu governo.
Outros que cruzaram seu caminho, particularmente na Europa, estavam sujeitos a violentas diatribes, frequentemente chamadas de "bolsadas", numa alusão à bolsa de couro preto que ela invariavelmente carregava.
"Uma tirana brilhante, cercada por mediocridades", foi como o ex-premiê Harold Macmillan a descreveu. "Aquela mulher sanguinária", foi o veredicto menos complacente de outro ex-premiê, Edward Heath, seu antecessor como líder conservador.
Thatcher deixa dois filhos, os gêmeos Carol, que é jornalista, e Mark, que é empresário.
A ex-premiê britânica Margaret Thatcher em uma de suas últimas aparições públicas (Foto: AFP)
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