Kim Phuc contou ao repórter Roberto Kovalick como superou a tragédia e aprendeu a perdoar.
Kim Phuc, a menina da foto que revelou o horror da guerra do Vietnã, esteve no Brasil esta semana. Ela contou ao repórter Roberto Kovalick como superou a tragédia e aprendeu a perdoar.
Quem a conhece quer posar ao lado dela. Afinal, Kim Phuc é a menina da foto que ajudou a acabar com uma guerra.
1972. Vietnã. Na vila onde Kim morava, um avião jogou bombas de napalm, substância incendiária feita à base de gasolina - hoje, proibida pelas Nações Unidas.
Do meio do fogo e da fumaça, surgiram crianças queimadas.
Um fotógrafo registrou aquele momento para a história. Kim, com 9 anos de idade, aparecia gritando e nua, porque as roupas foram queimadas junto com parte da pele.
Em palestras no Brasil, Kim conta:
"Infelizmente, os soldados que tentaram me ajudar não sabiam que o napalm queima embaixo da pele, e jogaram água em mim. Isso fez o napalm queimar ainda mais profundamente. E eu desmaiei", diz Kim Phuc.
A foto rodou o mundo. Um impacto tão grande que o presidente americano na época, Richard Nixon, disse: "Isso é uma montagem".
E influiu na pressão da sociedade americana para encerrar a guerra, que ainda levou três anos.
Enquanto tudo isso acontecia, Kim estava em um hospital, para onde foi levada pelo próprio fotógrafo Nick Ut. Já adulta, Kim o reencontrou.
“Ele fez o trabalho dele. Não apenas tirou a foto, mas deu um passo além do dever profissional. Ele me ajudou, salvou a minha vida. Sou muito agradecida por isso”, conta Kim.
Quarenta anos depois, as marcas da guerra ainda são visíveis no corpo de Kim. As cicatrizes causadas por napalm são impossíveis de apagar. Ela geralmente usa roupas de mangas compridas, para não chamar demais a atenção, não chocar as pessoas. Mas não se recusa a mostrar as cicatrizes quando alguém pede. São uma espécie de registro da história.
“Estas são minhas cicatrizes. Estão também nas minhas costas. Foi aqui que eu vi meu corpo pegando fogo. E tentei apagar com a outra mão”, mostra Kim.
“Elas ainda doem?”, pergunta o repórter.
“Sim, muita dor. Nas costas e também aqui. Quando o tempo muda, quando faço alguns movimentos e quando adoeço, a dor aparece”, conta Kim.
Há 18 anos, ela reencontrou o capitão americano que comandou o ataque.
“No começo foi muito difícil perdoar, porque sou um ser humano. Eu comecei a rezar pelos meus inimigos e meu coração se tornou mais leve. É por isso que estou sempre sorrindo e sou sempre positiva”, diz Kim.
Kim se tornou embaixadora da boa vontade da Unesco e criou uma fundação para ajudar outras crianças vítimas de guerras. E corre o mundo inspirando jovens com uma mensagem de paz, fé e perdão.
“Assistir à palestra dela é uma motivação a mais”, conta uma jovem.
“Ela perdeu praticamente tudo que ela tinha, toda a vida dela, e hoje ela está aqui, mostrando que ela conseguiu reverter a dor em amor”, acrescenta um jovem.
“A mensagem que eu quero dar para as pessoas do Brasil é que todo mundo pode aprender a viver com amor, com esperança e perdão. O desafio para todo mundo é: se aquela menininha pôde fazer isso, todo mundo pode fazer também”, declara Kim.